Quando regressei dos EUA, tratei um doente com quem aprendi uma grande lição: os portugueses não gostam de saber a verdade.
Tratava-se de uma pessoa com uma doença maligna e que, depois de termos chegado à conclusão de que a doença era incurável, me pediu um prognóstico. Disse-me: - Doutor, quero saber a verdade. Quanto tempo me sobra de vida? De forma delicada, mas sem fugir à pergunta, expliquei-lhe que teria entre seis meses a um ano de vida. Foi a última vez que o vi!
Mais tarde, muito mais tarde, um familiar disse-me que o doente e a família tinham ficado chocados com o meu comportamento. Dizer assim a verdade a uma pessoa...
Eu, claro, estava apenas a cumprir a minha obrigação para com um doente. Nos EUA, se não o tivesse feito, poderia ter perdido a licença para exercer medicina, poderia ter de indemnizar a família por danos causados e poderia até ter responsabilidades criminais, por enganar um cliente. Como tudo é diferente por aqui.
Penso que esta aversão à verdade se aplica em muitas circunstâncias. Desde a economia à política. Porque é que os ministros e até o primeiro-ministro mentem descaradamente? Porque, no fundo, sabem que a populaça não quer saber a verdade.
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