27 janeiro 2009

o mundo sem si


Eu pretendo neste post dar uma contribuição para completar o quadro mental do provinciano traçado por Pessoa, para além da sua incapacidade de ironia. O próprio Pessoa abre a porta a esta tarefa quando refere a incapacidade de afastamento intelectual (detachment) do provinciano, a sua incapacidade para dividir-se em dois que é o resultado do desenvolvimento da largueza da consciência em que consiste a civilização.

O provinciano é incapaz de pensar para além do aqui e do agora, e de imaginar um mundo diferente. No espírito do provinciano só cabem os factos da realidade. Ele é o realista extremo. A sua incapacidade de abstracção - que lhe permitiria ver o mundo tal como ele seria sob diferentes circunstâncias - é absoluta. É esta estreiteza de espírito, esta impossibilidade de conceber a vida senão como ela é, que é a marca distintiva da mente do provinciano.
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Daí o seu pasmo quando chega à cidade perante tudo aquilo que é novo e lhe é estranho. Ele nunca imaginou que este outro mundo fosse possível, na realidade, que fosse possível qualquer mundo diferente do seu. Falta-lhe a capacidade para se afastar, para se dividir, para se ver num mundo que não é o seu. No fim, o provinciano é aquele que não consegue imaginar o mundo sem si.

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