O problema de Portugal não é, nunca foi, o de falta de autoridade. Vivemos os nossos oitocentos anos de História assombrados por personagens cheias de gravitas e de auctoritas, que iam, todas elas sem excepção, resolver os dramas da pátria. Foi exactamente desse excesso de messias e de homens providenciais (pelo menos, dois a três em cada século) que resultaram os nossos mais graves problemas. Ao longo dos anos, as pessoas deixaram de pensar na cidade como coisa sua, mas como algo que não lhes pertence e cujos donos lhes fazem o favor de deixar habitar. Ser cidadão português não é um estatuto pessoal que comporte direitos, mas apenas obrigações. Obrigações perante o estado, obrigações para com quem governa e decide, obrigações para com quem manda. Em contrapartida, a ideia de que os governantes possam ser responsabilizados perante os cidadãos, que não politicamente de quatro em quatro anos, é impensável em Portugal. Para nós o governo da cidade não é um mandato. É um direito natural, de casta e de berço.
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