O objectivo principal dos meus últimos posts, e que constitui o tema da minha curiosidade intelectual presente, não é tanto o de repisar um ponto que eu há muito tenho como adquirido - a resistência pública da cultura portuguesa (católica) às novas ideias e a sua intolerância pública pelo debate racional. O meu objectivo é o de saber que função ou funções esta faceta desempenha na cultura.
Embora eu ainda não me sinta em condições para assentar um conjunto de teses a este respeito, gostaria de ir adiantando que as minhas conclusões preliminares são mistas e que, na minha opinião, a intolerância e a resistência a novas ideias serviu positivamente, em alguns aspectos importantes, e continua a servir hoje, a cultura portuguesa e os portugueses em geral.
O propósito deste post é, porém, outro. É o de chamar a atenção para o facto de a democracia não ter erradicado a cultura censória em Portugal. Pelo contrário, deu-lhe apenas outras formas. Um povo que conviveu durante séculos com a Inquisição e depois com a censura oficial, não pode apontar simplesmente o dedo à Igreja e a Salazar (na realidade, a censura oficial foi criada muito antes dele), e depois cada um dizer para si: "Eu cá sou muito tolerante, a Igreja e o Salazar é que não".
São necessários dois para dançar o tango e a realidade é que existe em cada português um censor potencial. Já não existe a Inquisição nem o SNI. Mas a democracia, permitindo a cada um exprimir as suas convicções em público, e fazendo-o geralmente de forma massificada através dos partidos, trouxe a censura para a rua, e ela exerce-se agora a cada esquina e sob as mais variadas formas. A blogosfera continua a ser a este respeito um excelente laboratório de observação.
Neste artigo, Eurico de Barros categoriza algumas das formas de censura espontânea - no sentido em elas emergem naturalmente da população - em relação a qualquer ideia nova e ao debate racional: o amesquinhamento moralizante, a refutação sobreexcitada, a contradição irracional, a rejeição intelectualmente vácua, à qual várias outras se poderiam juntar e às quais já fiz referência em posts anteriores: o insulto, a ridicularização, a sabotagem do debate intelectual (vg, via atribuição de intenções) a auto-atribuição de estados de alma (vg, "estou com os azeites, com a mostarda no nariz, ou com a mosca"), etc.
Não é fácil lidar com inquisidores ou censores oficiais. Mas ao menos sabe-se quem eles são, onde estão e ao que andam. A margem de manobra para os iludir é ainda considerável. Muito mais difícil é resistir à censura quando ela é espontânea e se exerce através de movimentos de massa (os partidos são os principais agentes da censura em democracia). Aí, a prazo, não há escapatória, ela encontra-se a cada esquina, em cada redacção de jornal, rádio ou televisão, em cada universidade, em cada caixa de comentários de um blogue.
Embora eu ainda não me sinta em condições para assentar um conjunto de teses a este respeito, gostaria de ir adiantando que as minhas conclusões preliminares são mistas e que, na minha opinião, a intolerância e a resistência a novas ideias serviu positivamente, em alguns aspectos importantes, e continua a servir hoje, a cultura portuguesa e os portugueses em geral.
O propósito deste post é, porém, outro. É o de chamar a atenção para o facto de a democracia não ter erradicado a cultura censória em Portugal. Pelo contrário, deu-lhe apenas outras formas. Um povo que conviveu durante séculos com a Inquisição e depois com a censura oficial, não pode apontar simplesmente o dedo à Igreja e a Salazar (na realidade, a censura oficial foi criada muito antes dele), e depois cada um dizer para si: "Eu cá sou muito tolerante, a Igreja e o Salazar é que não".
São necessários dois para dançar o tango e a realidade é que existe em cada português um censor potencial. Já não existe a Inquisição nem o SNI. Mas a democracia, permitindo a cada um exprimir as suas convicções em público, e fazendo-o geralmente de forma massificada através dos partidos, trouxe a censura para a rua, e ela exerce-se agora a cada esquina e sob as mais variadas formas. A blogosfera continua a ser a este respeito um excelente laboratório de observação.
Neste artigo, Eurico de Barros categoriza algumas das formas de censura espontânea - no sentido em elas emergem naturalmente da população - em relação a qualquer ideia nova e ao debate racional: o amesquinhamento moralizante, a refutação sobreexcitada, a contradição irracional, a rejeição intelectualmente vácua, à qual várias outras se poderiam juntar e às quais já fiz referência em posts anteriores: o insulto, a ridicularização, a sabotagem do debate intelectual (vg, via atribuição de intenções) a auto-atribuição de estados de alma (vg, "estou com os azeites, com a mostarda no nariz, ou com a mosca"), etc.
Não é fácil lidar com inquisidores ou censores oficiais. Mas ao menos sabe-se quem eles são, onde estão e ao que andam. A margem de manobra para os iludir é ainda considerável. Muito mais difícil é resistir à censura quando ela é espontânea e se exerce através de movimentos de massa (os partidos são os principais agentes da censura em democracia). Aí, a prazo, não há escapatória, ela encontra-se a cada esquina, em cada redacção de jornal, rádio ou televisão, em cada universidade, em cada caixa de comentários de um blogue.
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