13 novembro 2008

com dinheiro ou com ideias


O Ricardo levantou-se do tapete com a ajuda dos comentadores X e Rui Silva, numa demonstração de uma das melhores facetas da cultura portuguesa - a sua capacidade generosa para estender a mão a quem está em dificuldades, seja amigo ou estranho.

Como é um homem novo e cheio de energia, o Ricardo rapidamente curou as feridas e voltou ao centro do ringue. Decidiu então pedir a dois comentadores - à zazie e ao José - que apresentassem eles próprios propostas de avaliação dos professores que servissem de alternativas à sua.

Foi nesta altura que eu fiquei excitado com a experiência porque me permitia especular com uma tese. Se há coisas que me excitam na vida, a especulação é seguramente uma das principais, especialmente a especulação com dinheiro ou com ideias. A minha tese era a de que nem a zazie nem o José seriam capazes de pôr de pé propostas racionais e coerentes de avaliação dos professores, e defendê-las. Na altura, eu estava ocupado a especular com dinheiro e não podia desviar a atenção para a especulação com as ideias. Ainda assim, fui rapidamente a uma caixa de comentários lavrar o essencial da minha tese. (aqui e aqui)

A fundamentação para a minha tese partia precisamente do reconhecimento que a zazie e o José, sendo dois dos melhores, dos mais maduros e experimentados comentadores da blogosfera nacional, são também dois dos mais fieis representantes da cultura portuguesa, com todas as suas virtudes e todos os seus defeitos, sendo, talvez, desnecessário acrescentar, que eu considero que as primeiras excedem largamente os segundos.

Ora, a cultura portuguesa, como repetidamente tenho afirmado, é especialista em contra-reformas, não em reformas - em destruir ideias, não em construi-las. Os posts contendo os planos de avaliação de professores da zazie e do José acabaram por aparecer aqui e aqui. Logo a seguir, o Ricardo colocou à adivinhação dos leitores a semelhança existente entre os dois planos, como sendo a million dollar question. A semelhança entre os planos de avaliação era a de que cada um deles continha uma cláusula que invalidava todas as outras e, em última instância, o próprio plano de avaliação.

No caso da zazie era a cláusula que estabelecia que a avaliação dos professores não devia ser utilizada para efeitos de progressão na carreira, isto é, a avaliação não devia ter consequências práticas (quem, no seu perfeito juízo, vai elaborar e implementar planos de avaliação que não servem para nada?). No caso do José, era a declaração apriorística de que não é posssível fazer avaliações que sejam rectas, justas e objectivas (quem, no seu perfeito juizo, vai elaborar planos de avaliação que se sabe de antemão serem enviesados, injustos e subjectivos, e que não vão ser aceites por ninguém?).

Não apenas isto. Em breve, quer o José quer a zazie estavam a desvalorizar as suas próprias ideias contidas nos respectivos planos de avaliação, a zazie dizendo que era matéria para técnicos, o José pretendendo que a sua própria proposta não podia ser levada a sério. A discussão terminou, como geralmente acontece no país, numa certa gozação e numa certa zangação.
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Seja como fôr, eu considerei vindicada a minha tese, a saber: os portugueses são muito bons e eficazes a destruir as ideias dos outros, muito débeis a construir e a defender as suas próprias ideias. A convicção que põem a destruir as ideias dos outros, encontra o seu correspondente na insegurança com que defendem as suas. Finalmente, as ideias em Portugal, e a sua discussão, não são para ser tomadas a sério nem para terem consequências práticas.
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PS. Seria talvez desnecessário acrescentar que, sendo os portugueses (eu, naturalmente, incluido) pessoas muito susceptíveis e que por vezes se tomam excessivamente a sério - dois dos seus pequenos defeitos -, ao nomear a zazie e o José neste post eu não tive nenhuma intenção de diminui-los e, muito menos, ofendê-los. Ficam aqui já as minhas desculpas para ambos se a interpretação deles fôr diversa. O mesmo vale para o Dragão que é o tema do meu próximo post.

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