Como, várias vezes, tenho argumentado, esta crise resulta da falta de tangibilidade do sistema financeiro que resultou da abolição dos acordos de Bretton Woods. Vivemos um mundo absolutamente virtual. É uma gigantesca Matrix criada para alimentar a Democracia e a rede social que a suporta. O dinheiro nasce do nada. Só assim se explica que, de um momento para outro, os governos inventem milhões, biliões, triliões de dólares, euros, yens, yuans e sabe-se lá mais o quê.
Ainda ontem, noutro post, citei um norte-americano que afirmava o seguinte "Money is money", ou seja, dando a entender que o dinheiro é físico. Nada mais falso. Hoje em dia, o dinheiro é papel. É "Paper Money". Aliás, isso até me faz lembrar algo que os investidores em bolsa fazem quando estão a estudar novas estratégias de investimento, ou seja, faz-me pensar na expressão "Paper Trading" (transacções simuladas). O problema é que os governos não anda a fazer experiências. Andam a gerir os destinos do mundo com base neste simulacro, que é o actual sistema financeiro - intangível e virtual.
Contudo, este é o único modelo que permitirá manter o estilo de vida a que nos habituámos nas últimas décadas. Este é o único sistema que nos permitirá alimentar as ilusões de querer viver acima das nossas possibilidades. O único que pagará as reformas que nos prometeram e para as quais descontamos hoje para receber amanhã. O inconveniente, politicamente incorrecto, de tudo isto é que estamos a operar uma enorme fuga para a frente. E qualquer dia, esta mega bolha, como todas as outras ao longo da história, acabará por rebentar.
Por isso, esta crise representa uma oportunidade dourada para evitar o rebentamento dessa bolha. Primeiro, aguentar o barco à tona da água, ou seja, segurar os bancos que apresentam risco sistémico e que ameaçam o regresso à economia de troca directa (parece estar feito). Segundo, reformar o sistema financeiro através da contracção da emissão monetária dos bancos centrais e de rácios de solvabilidade significativamente mais altos nos bancos comerciais. Terceiro, incentivar a poupança, individual e empresarial, por via de taxas de juro mais altas, que sejam, pelo menos, superiores à inflação. Quarto, deixar que os mecanismos de mercado procedam à separação do trigo e do joio. Quinto, aguentar firme perante a recessão que resultará de tudo isto. Sexto, já com o sol a nascer, acordar para uma nova era, mais saudável e mais sustentável que a anterior.
Um único senão: será que isto é possível em democracia? A avaliar pelo comportamento dos políticos actuais, cujos incentivos individuais e corporativos vão no sentido de prolongar a bolha, a resposta parece ser não. Infelizmente, se nada disto for feito, a bolha rebentará mesmo. E então, sim, será o fim da democracia. Certamente, o fim do mundo conforme o conhecemos.
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