12 novembro 2008

The end of the world is upon us...



Como, várias vezes, tenho argumentado, esta crise resulta da falta de tangibilidade do sistema financeiro que resultou da abolição dos acordos de Bretton Woods. Vivemos um mundo absolutamente virtual. É uma gigantesca Matrix criada para alimentar a Democracia e a rede social que a suporta. O dinheiro nasce do nada. Só assim se explica que, de um momento para outro, os governos inventem milhões, biliões, triliões de dólares, euros, yens, yuans e sabe-se lá mais o quê.

Ainda ontem, noutro post, citei um norte-americano que afirmava o seguinte "Money is money", ou seja, dando a entender que o dinheiro é físico. Nada mais falso. Hoje em dia, o dinheiro é papel. É "Paper Money". Aliás, isso até me faz lembrar algo que os investidores em bolsa fazem quando estão a estudar novas estratégias de investimento, ou seja, faz-me pensar na expressão "Paper Trading" (transacções simuladas). O problema é que os governos não anda a fazer experiências. Andam a gerir os destinos do mundo com base neste simulacro, que é o actual sistema financeiro - intangível e virtual.

Contudo, este é o único modelo que permitirá manter o estilo de vida a que nos habituámos nas últimas décadas. Este é o único sistema que nos permitirá alimentar as ilusões de querer viver acima das nossas possibilidades. O único que pagará as reformas que nos prometeram e para as quais descontamos hoje para receber amanhã. O inconveniente, politicamente incorrecto, de tudo isto é que estamos a operar uma enorme fuga para a frente. E qualquer dia, esta mega bolha, como todas as outras ao longo da história, acabará por rebentar.

Por isso, esta crise representa uma oportunidade dourada para evitar o rebentamento dessa bolha. Primeiro, aguentar o barco à tona da água, ou seja, segurar os bancos que apresentam risco sistémico e que ameaçam o regresso à economia de troca directa (parece estar feito). Segundo, reformar o sistema financeiro através da contracção da emissão monetária dos bancos centrais e de rácios de solvabilidade significativamente mais altos nos bancos comerciais. Terceiro, incentivar a poupança, individual e empresarial, por via de taxas de juro mais altas, que sejam, pelo menos, superiores à inflação. Quarto, deixar que os mecanismos de mercado procedam à separação do trigo e do joio. Quinto, aguentar firme perante a recessão que resultará de tudo isto. Sexto, já com o sol a nascer, acordar para uma nova era, mais saudável e mais sustentável que a anterior.

Um único senão: será que isto é possível em democracia? A avaliar pelo comportamento dos políticos actuais, cujos incentivos individuais e corporativos vão no sentido de prolongar a bolha, a resposta parece ser não. Infelizmente, se nada disto for feito, a bolha rebentará mesmo. E então, sim, será o fim da democracia. Certamente, o fim do mundo conforme o conhecemos.

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