A principal notícia financeira do dia é o pedido que o Banco Privado Português (BPP) fez ao Estado no sentido deste avalizar um empréstimo bancário até 750 milhões de euros, a 3 anos, junto do Citigroup. É a segunda vez, esta semana, que o BPP salta para as notícias pelas más razões. A primeira tinha sido há uns dias, quando a Moody's fez uma revisão em baixa da sua dívida de longo prazo, sob o argumento de que o modelo de negócios do banco estava (está) muito dependente da evolução do mercado de capitais.
Portanto, o que é que está aqui em causa? A liquidez ou a solvabilidade do banco? Um pouco dos dois embora, de forma indirecta, o maior risco seja de facto a sua solvência. O BPP está a braços com os seus próprios activos tóxicos. Os chamados "Special Investment Vehicles", ou SIV's, que permitem transferir certos créditos sobre clientes, alegadamente respaldados por activos reais, para fora do balanço ("off balance sheet"). No caso do BPP, os activos que constituem os SIV's e servem de garantia aos empréstimos, a clientes externos ou induzidos internamente através da alavancagem da carteira própria do banco, dizem respeito a participações accionistas em várias empresas. Da construção (Mota Engil e Brisa) aos próprios concorrentes nacionais (BCP), passando ainda por investimentos no Brasil, tudo activos cujas cotações registaram nos últimos meses desvalorizações dramáticas.
Por isso, é que apesar do BPP registar um rácio tier1 muito superior à média, cerca de 15%, se apresenta agora em dificuldades. Porque em face do risco contabilizado fora do balanço, o tier1 do BPP acaba por representar uma má estimativa da verdadeira solvência deste banco. Contudo, note-se que ao contrário do que aconteceu no BPN, as manobras contabilísticas realizadas pelo BPP são absolutamente legais. Enquadram-se nas práticas internacionalmente aceites no sector. De resto, a escolha do Citigroup, para auxiliar a operação de financiamento, não surge por acaso. É que o Citigroup possui larga experiência no que diz respeito aos veículos de investimento contabilizados fora do balanço, como de resto aqui referi há semanas noutro post relacionado (ver último parágrafo).
Na minha opinião, esta situação evidencia a fragilidade dos critérios contabilísticos a que estão sujeitos os bancos. Em particular, esta invenção engenhosa do "off balance sheet", que desvirtua por completo qualquer avaliação séria de solvabilidade financeira. A solução é trazer para o balanço todas as operações de empréstimo e exigir rácios de capital mais elevados.
Quanto à situação concreta do BPP, desde que se tornou accionista do BCP com mais de 2% do capital deste último, que se fala na possibilidade de uma aquisição. Do BCP sobre o BPP, com Rendeiro a saltar para a administração do primeiro. Portanto, talvez agora o preço seja mais convidativo.
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