23 outubro 2008

Game over


Hoje foi Greenspan, mas ontem foram os CEO's das agências de rating que estiveram no Congresso norte-americano. Confesso que não me recordo do nome do senhor que vi na Bloomberg a ser bombardeado pelos Congressistas. E também não sei qual das três agências de rating - S&P (tida como a mais séria), Moody's (tida como a 2ª menos má) ou Fitch (tida como a menos credível) - ele representava. Mas foi interessante ver a forma como se sujeitou àquela sessão. Um espectáculo televisivo, que tem como inconveniente a sua hipocrisia, mas como vantagem a exposição pública daquilo que nunca funcionou bem.

Como já tinha acontecido em crises anteriores, por exemplo no caso da Enron e no caso das notas de recomendação de compra e venda dos bancos de investimento no pós bolha tecnológica do início do milénio, também agora surgem aquelas personagens irritantes conhecidas na linguagem anglo saxónica como os "whistleblowers". Em português, os bufos. Ou, se preferirem, os filhos da puta.

É que, aparentemente, investigadores do Congresso "descobriram", junto de funcionários da Moody's, alguns emails incriminatórios. Aqui vai o texto:

"Employees at Moody's Investors Service told executives that issuing dubious creditworthy ratings to mortgage-backed securities made it appear they were incompetent or ``sold our soul to the devil for revenue'' (fonte: Bloomberg)

Quanto aos coitadinhos que "detectaram" o conflito de interesses, mas que se mantiveram tranquilamente nas suas funções, recebendo bónus atrás de bónus, e que agora se vêm queixar, tenho apenas uma mensagem: são tão culpados quanto os executivos. Quanto ao conflito de interesses, já aqui escrevi sobre o assunto e não é novidade. O que é estranho é que estas agências de rating tenham sobrevivido tanto tempo perante os repetidos fracassos na sua actuação. Estas empresas só serão sérias quando o seu serviço for pago, não por quem emite e vende os títulos, mas sim por quem os compra.

Entretanto, passa-se algo de contraditório em relação às agências de rating. É que não tendo cumprido o seu objecto social quando era altura de o fazer, antes da crise estalar, agora, com os downgrades que continuam a fazer, estão a agravar a situação. Ou seja, subitamente tornaram-se materiais no desenrolar dos acontecimentos. Infelizmente, a destempo! Portanto, uma solução possível, embora reconheça que nada liberal, era fechar-lhes o negócio compulsivamente antes que cometam ainda mais danos a uma situação já de si muito delicada.

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