21 setembro 2008

Veneza


A palavra corre célere em Veneza de que eu fui à bancarrota e uma série de comerciantes foram à falência também por eu não ter honrado as ordens de pagamento que eles possuiam sobre mim, fechando fábricas e lançando centenas de pessoas no desemprego.

Ao meu lado, em outros bancos de jardim em Veneza, existem vários outros banqueiros que fazem a mesma actividade que eu, e da mesma forma que eu. Muitos comerciantes têm no bolso ordens de pagamento emitidas sobre eles. Ao ouvirem a notícia da minha falência, estes comerciantes vão a correr, e todos ao mesmo tempo, apresentar as ordens de pagamento aos meus colegas banqueiros. Está aqui a origem da expressão corrida ao banco.

Sucede-lhes o mesmo do que a mim. Como eles tinham emprestado a juros uma parte dos valores que receberam em depósito, não têm maneira de honrar a totalidade das ordens de pagamento que lhes são apresentadas. Vão também à bancarrota.

E à falência vão também todos os comerciantes que ficaram por receber as suas ordens de pagamento, porque agora não têm dinheiro para pagar aos seus empregados e fornecedores.

Uma nuvem negra abate-se sobre Veneza. Todos os bancos falidos, todos os comerciantes também falidos, toda a gente no desemprego. Nada se produz. Não há nada para comer.

A uma esquina, dois intelectuais discutem a situação. Um sugere que a única maneira de evitar esta catástrofe é o Estado tomar conta (nacionalizar) todos os bancos, honrar em nome deles todas as ordens de pagamento possuidas pelos comerciantes e manter a economia de Veneza a funcionar.
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Outro, que se diz liberal, discorda. Diz ele que em nome dos princípios da economia de mercado, deveriam deixar ir todos os bancos à falência, todos os comerciantes também, toda a população para o desemprego. Fome e miséria, argumenta ele, é o que esta gente precisa para aprender, da próxima vez, a não fazer o mesmo.

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