21 setembro 2008

banco


Eu estou sentado num banco de jardim em Veneza (daí o nome dado à instituição, Banco) e em breve me vou tornar um banqueiro. Em Amsterdão, o senhor van Dunen faz o mesmo que eu e será banqueiro também em breve. Na realidade, seremos correspondentes.

Um comerciante de Veneza compra mercadorias a um comerciante de Amsterdão. O preço é 100 e o pagamento na altura normalmente era em ouro. Porém, transportar ouro naquela época era moroso e perigoso, havia assaltos pelo caminho. Então, o comerciante de Veneza vem ter comigo ao banco (de jardim), entrega-me o ouro no valor de 100 e pede-me em troca um documento que seja uma ordem dada ao meu correspondente van Dunen para fazer o pagamento de 100 ao comerciante de Amsterdão. Assim se faz. Completada a operação, eu devo 100 ao senhor Van Dunen, mas a transacção entre os comerciantes está liquidada.

No dia seguinte um outro comerciante de Amsterdão, que comprou mercadoria a um comerciante de Veneza no valor de 120 está a fazer uma operação inversa. Entrega este valor em ouro ao senhor van Dunen, e em troca recebe um documento (ordem de pagamento) que me ordena a mim pagar ao comerciante credor em Veneza o montante de 120 em ouro. Quando o papel me é apresentado, eu honro esse compromisso. A transacção entre os comerciantes está saldada. E, agora, é o senhor van Dunen que me deve a mim 20 (120 menos o crédito que tinha sobre mim no valor de 100). Entre os dois, acertaremos contas mais tarde. Está aqui a origem da chamada câmara de compensação dos modernos sistemas bancários.

Com o decorrer do tempo, milhares de transacções desta natureza são efectuadas diariamente, num sentido e noutro. Em Veneza, eu recebo depósitos em ouro e honro as ordens de pagamento emitidas pelo senhor van Dunen. Em Amsterdão, o senhor van Dunen recebe depósitos em ouro e honra as ordens de pagamento emitidas por mim.

Mais adiante, eu dou-me conta de uma circusntância curiosa. Embora tenha, em média, por mês um valor de 1000 em depósitos em ouro apenas me são apresentadas, em média por mês, ordens de pagamento emitidas pelo senhor van Dunen no valor de 400. A razão é que os comerciantes ganharam tanta confiança em mim que alguns já não vêm ter comigo para apresentar e receber as ordens de pagamento. Pelo contrário, endossam-nas uns aos outros para liquidarem as suas transacções.

Eu tenho então um valor de 600 em ouro, que é dos depositantes, mas nunca é reclamado. Que tal emprestá-lo a juros e retirar daí um ganho? E é isso que eu vou fazer. Começa aqui o processo de alavancagem da banca, segundo o qual, o banqueiro passa a investir, através de empréstimos com juros, dinheiro que não é seu.

A operação é tão lucrativa para mim, ganhar dinheiro (juros) com o dinheiro dos outros (depositantes), que em breve a vou tornar um hábito. De cada mil que recebo em depósitos, guardo 400 para fazer face aos pagamentos habituais, e empresto os restantes 600 a juros.

O problema surge no dia em que, por qualquer motivo, os comerciantes que têm ordens de pagamento sobre mim no valor de 1000 as apresentam ao mesmo tempo. É que eu só tenho comigo ouro no valor de 400, os outros 600 estão emprestados. Não vou poder honrar as ordens de pagamento. Estou na bancarrota (expressão italiana que designa partir o banco, porque era isso que os comerciantes credores, que ficavam a arder, costumavam fazer - partiam o banco e a cara ao banqueiro).

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