26 setembro 2008

É só na América?


Num post anterior referi um choque cultural que tive quando regressei a Portugal depois de viver vários anos na América do Norte - aquele que eu ainda hoje chamo o choque da queda no poço. Fiquei confortado por, logo a seguir, na caixa de comentários, o Joaquim ter vindo dizer que sentiu o mesmo.

Gostaria agora de falar de outro choque - o choque da vacuidade intelectual. Este foi o choque que senti ao ver os intelectuais portugueses nos jornais, nas rádios e nas televisões serem exímios a diagnosticar, criticar e apontar soluções para os problemas da América, dos países da Europa e do Mundo, ao mesmo tempo que omitiam, não discutiam, nem diagnosticavam os problemas da mesma natureza que tinham no seu próprio país - e, às vezes, numa escala muito maior (v.g., pobreza, falta de infraestruturas, atraso económico relativo, educação e saúde). Eles eram extraordinários a apontar soluções para resolver os problemas dos outros, ao mesmo tempo que silenciavam os seus que, não raro, eram de uma dimensão muito maior. Na altura, elegi o jornal Expresso como o símbolo desta vacuidade intelectual, opinião que ainda hoje mantenho.

Eu relembrei agora este choque cultural a propósito da crise financeira. Vamos primeiro aos números. As perdas totais dos bancos no mundo, já contabilizadas em resultado da presente crise financeira, ascendem a $560 biliões. Destas, 260 respeitam à América do Norte, 240 à Europa e 60 à Ásia. Nos últimos dois meses os jornais portugueses e europeus estão cheios de grandes notícias acerca da falência de bancos na América. Hoje têm mais uma: o Washington Mutual, também conhecido por WaMu, acaba de falir, sendo adquirido pelo JP Morgan Chase, a pedido do governo americano. Trata-se da maior falência bancária na história dos EUA.

A minha questão é simples. Olhe para os números e depois procure responder à questão: Mas então nos países da Europa não há bancos em situação de falência? É só na América?

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