Os portugueses são obsessivos acerca da coerência individual. Têm uma visão mecanicista do mundo e acreditam que ser incoerente é como encaixar uma peça errada num mecanismo. A máquina encrava e as consequências são terríveis.
Estamos sempre prontos a descobrir incoerências nas afirmações alheias e não temos qualquer cerimónia em repreender um concidadão que tenha demonstrado incoerência.
Quando eu era jovem, muito jovem, sofria desta maleita em último grau. Aliás, era um problema epidémico e eu tinha sido contaminado. A malta interessada na política acusava-se com frequência de incoerência, os Trotskistas ao Estalinistas, aos Maoistas, enfim...
Era até um argumento que se podia atirar, “in extremis”, a uma sirigaita que não estivesse disposta a levar até às ultimas consequências a contra-cultura da época. Afinal não passas de uma burguesa, sua incoerente!
Claro que este argumento, com uma tipa, nunca funciona. As mulheres são natural e totalmente incoerentes, mudando de opinião mais depressa do que a velocidade da luz e sem quaisquer complexos. Acusar portanto uma rapariga de ser incoerente é o exercício mais patético e incoerente a que um gajo se pode dedicar.
O contrário, porém, não é verdadeiro. Qualquer mulher que acuse um portuga de ser incoerente fere, de modo irreparável, o seu cromossoma Y. É como se o acusasse de ser frouxo ou de não se desengomar com facilidade.
Na minha opinião, devemos seguir um pouco o exemplo feminino. Aceitar uma certa incoerência como o preço a pagar pela enorme ignorância que temos e sermos um pouco mais utilitários. Como os nossos amigos anglo-saxónicos.
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