12 agosto 2008

Não comprometidos


Rui,

Excelente post em resposta ao meu comentário que, confesso, talvez esteja um bocadinho exagerado.

Mas, apesar de tudo, mantenho a mensagem subjacente. Ou seja, que estes políticos não estão nada interessados em mudar o actual sistema que os privilegia a eles em prejuízo de todos os cidadãos que estão fora da política. O que faz com que a população os desdenhe, mas que os inveje em simultâneo. Porque é evidente que todos os que chegam a um certo nível na política portuguesa ficam a salvo da precariedade que, em termos gerais, caracteriza a vida da maioria dos portugueses. Em Portugal, entrar na política ou na função pública é a forma, mais ou menos certa, de evitar o drama que a generalidade dos cidadãos enfrenta: a armadilha da classe média, representada na figura de empregos meramente razoáveis, salários com reduzida margem de progressão e zero perspectivas de evolução. E a criminalidade que começa a generalizar-se em Portugal – o recente caso dos brasileiros no balcão do BES é um exemplo disso mesmo – dá conta de que a situação social se está a deteriorar de forma significativa.

Agora, é evidente que eu não desejo que o país entre em convulsão social, nem defendo nenhuma revolução. E quanto à nossa permanência na União Europeia, é um dado adquirido – pelo menos até 2013 – e ainda bem que assim é. O que me parece é que as condições começam a ser propícias à denúncia, com consequências práticas, dos conflitos de interesses que poluem as nossas instituições de Estado. Porque enquanto a conjuntura é favorável, a população vê alguma luz ao fundo de túnel e se calhar até se diverte com algumas histórias de favorecimento político. Mas quando começa a não existir dinheiro e o garrote da classe média se começa a fazer sentir, então, as pessoas mudam de opinião e de representantes. No estado em que as coisas estão os novos representantes terão de ser outros, não corrompidos pelo actual regime parlamentar, que possam cortar a eito. E, dada a dificuldade de os fiscalizar, também terão de ser em menor número. Daí que eu defenda a ideia de que, a prazo, poderão emergir da sociedade civil certos grupos de indivíduos, não comprometidos, que conduzam a democracia portuguesa para um regime de representação directa.

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