31 agosto 2008

debates


A diferença entre a cultura protestante e a cultura católica para raciocinar em termos abstractos tem outras implicações para além da vantagem relativa que confere à primeira em relação à segunda para criar ciência, e que salientei no meu post anterior. Na realidade, essa diferença reflecte-se em muitas outras instância da vida social. Tratarei neste post de uma delas.

Refiro-me à qualidade do debate intelectual nas duas culturas. A cultura protestante enfatiza aquilo que é comum ao homem - a natureza humana. A cultura católica, pelo contrário, enfatiza aquilo que é peculiar ou distintivo em cada homem - a sua personalidade. Assim, num debate público sobre um tema social em país protestante todos os intervenientes assentam as suas intervenções nos mesmos pressupostos - a natureza humana. É o facto de os pressupostos serem comuns a todos os intervenientes que permite a formulação de teses que são confrontáveis entre si e de cujo confronto podem resultar compromissos e até consensos.

Pelo contrário, num país católico a concentração dos participantes é naquilo que é peculiar ou distintivo em cada homem. Não existem pressupostos comuns na discussão e quando assim é o debate intelectual é estéril e a obtenção de consensos, ou sequer de compromissos, torna-se uma miragem. Isso explica em parte porque em Portugal, como em outros países católicos, os debates públicos, seja televisão, nos jornais ou na blogosfera não conduzem a conclusão nenhuma e são uma pura perda de tempo, senão mesmo por vezes um espectáculo deprimente.

E isto é assim, não é de mais relembrar, porque a cultura protestante tende a concentrar-se naquilo que é essencial ou permanente nos fenómenos sob discussão, enquanto a cultura católica tende a dispersar-se naquilo que é acessório senão mesmo excepcional.

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