Chegado de Nova Iorque, tive uma recepção inesquecível no aeroporto Francisco de Sá Carneiro, que seria falsa modéstia não partilhar convosco, até porque reflecte o estado do nosso Portugal Contemporâneo.
Depois de seguir as indicações de “saída e “nada a declarar”, fui interpelado por um funcionário da alfândega que, após confirmar que regressava dos EUA, me solicitou que passasse a uma sala ao lado, onde as nossas bagagens foram examinadas a pente fino.
Informei o Sr. Inspector de que não transportava qualquer valor, mas esta informação rapidamente se revelou falsa. Depois de minuciosa inspecção, os zelosos funcionários detectaram três peças de vestuário adquiridas nos States e que, segundo me informaram, constituíam uma importação ilegal.
-Ilegal? Perguntei com cara de morcão. São apenas uns “recuerdos” atalhou a Isabel.
-Recuerdos? –São produtos têxteis, sujeitos a tarifas pesadas.
Depois de apelar inutilmente ao bom senso, fui confrontado com a realidade dos factos: Taxas aduaneiras, + IVA, + coimas por ter passado pela alfândega sem saber que estava a cometer um crime, tudo somado 500.00 € (em contas redondas). Pelos vistos, apenas podemos entrar com compras, feitas fora da UE, até um valor de 175.00 €, por pessoa. Surpreendente, não?
Já cá fora, mas ainda estupefacto, fui abordado por um tipo emigrado em Newark que me perguntou:
- Entom? Quanto foi o tombo? Respondi-lhe que tinha pago 500.00 €.
- Bocê, desculpe que lhe diga, mas foi muito trouxa. A gente bem carregado com tudo e não pagámos um tostão. Tirámos as etiquetas de tudo e a minha mulher até enfiou este casaco. Tá a ber este relógio?
- Tenho que lhe dar razom! Fui muito trouxa...
Num País pobre, os cidadãos têm de andar sempre com uma mão à frente e outra atrás. Vou continuar a viajar para Nova Iorque quando muito bem me apetecer, vou continuar a comprar alguns “recuerdos” nos States e não tenciono arrancar-lhes as etiquetas, mas para a próxima vou por Barajas e ainda passo uns dias em Madrid.
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