Quando escrevi o meu último post, sobre a pobreza relativa, estava apenas a comentar uma observação do Presidente do Conselho Económico e social que me pareceu muito infeliz. Apesar de ser difícil quantificar qualquer tipo de sofrimento, recuso colocar no mesmo nível o que é causado por carências básicas com o que possa ser causado por necessidades relacionadas com a auto-estima ou com o respeito social.
Penso que se trata de uma questão de bom senso sobre a qual não vale a pena verter muitos comentários.
Ao reflectir sobre o assunto ocorreu-me, contudo, que a comparação entre a pobreza absoluta e a pobreza relativa tem um perigo enorme. Uma ameaça medonha que deve ser exposta. Se aceitarmos que os que vivem em pobreza relativa, num pais rico, sofrem tanto ou quase tanto como os que vivem em pobreza absoluta, nos países pobres, estamos a justificar o desprezo pelos verdadeiros pobres. Estamos a desencorajar o altruísmo e a incentivar o egoísmo.
A pobreza relativa tem várias definições. Uma das mais populares define um pobre como um indivíduo que aufere um rendimento líquido inferior a 60% da mediana. Ora num país rico este montante é bastante elevado. Nos EUA, o rendimento atribuído aos destitutos, pelo Estado, somado a diversas ajudas e subsídios, ultrapassa os 14.000,00 € / ano /por pessoa. O que eu afirmo é que a situação destas pessoas não deve ser comparada à das que vivem com 1 ou 2 euros por dia.
Até os pobres dos países ricos devem ajudar a pobreza absoluta. Se os pobres relativos não demonstrarem altruísmo para com os que vivem na pobreza absoluta, não devem esperar qualquer altruísmo dos ricos. Este é, aliás, um dos ensinamentos mais antigos do Cristianismo: Trata os outros como gostarias que te tratassem a ti.
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