09 abril 2008

uma oportunidade perdida

Escrevi há uns meses, quando Paulo Portas regressou ao CDS, alguns posts que lhe foram pouco abonatórios e que a maioria das pessoas, sobretudo os seus apoiantes, interpretou como manifestações injustas de antipatia pessoal. Não o foram, como hoje resultará claro para qualquer observador medianamente isento.

Para além das muitas cenas deploráveis que marcaram o enredo do seu regresso, impróprias de um partido conservador e institucional como o CDS de Portas sempre quis parecer, e que ficarão indelevelmente registadas na memória da opinião pública, o que ressaltava era o haraquiri que estupidamente infligiu a si mesmo alguém cujo futuro político poderia ter sido bem diferente. O que incomodava era perceber que um homem inteligente e bem preparado, com boas características mediáticas e de liderança, não fora, afinal, capaz de dominar o vício da politiquice, da intriga de corte, do telemóvel e das conspirações de caserna, e se deixou arrastar para o lodaçal da pequena política das pequenas estruturas do seu pequeno partido. O que entristeceu foi perceber que, afinal, Paulo Portas era politicamente uma figura menor, à semelhança de muitas outras, incapaz de resistir ao vício e às paixões fugazes e sem consequência de uma estéril vida de aparelho, em vez de saber dominar-se e dispor livremente da sua pessoa política.

Imaginemos que, em vez de ter ido guinchar, com os seus colegas do grupo parlamentar e das distritais, para os Conselhos Nacionais contra Ribeiro e Castro e a «Zézinha», Paulo Portas se tinha resguardado e afastado efectivamente da vida quotidiana do seu partido, como, de resto, prometera no momento da demissão. Nessa altura, eram já mais do que previsíveis os seguintes factos: que a direita não recuperaria da pouca vergonha causada por Durão Barroso e Santana Lopes (sobretudo pelo primeiro) a tempo de ganhar as legislativas seguintes ao PS; que o PSD se continuaria a desentender e a agravar as divisões internas fosse quem fosse o líder; que Ribeiro e Castro estava fadado a ter resultados eleitorais irrelevantes, que o remeteriam para a insignificância política. Numa palavra, que a direita ficaria sem projecto, sem credibilidade, sem líder, e com absoluta necessidade de alguém que lhe desse sentido e eleitorado.

Imagine-se que Paulo Portas se tinha resguardado e credibilizado com intervenções públicas sensatas e espaçadas no tempo, que mantinha uma posição discreta mas influente nos media, que geria a sua imagem pública como a direita gosta, com parcimónia, autoridade e carisma, sem precipitações, berreiros e histerismo. No fim de contas, como fez Cavaco Silva, durante dez longos anos, para preparar a marcha triunfal para Belém. Hoje, com a direita desfeita, com o PSD (e, já agora, o CDS) sem líder credível à vista, com a falência dos seus partidos e a necessidade absoluta da sua refundação, sem lideranças naturais na sociedade civil (um líder leva tempo a fazer-se) e com uma maioria absoluta do PS mais do que provável no horizonte, para quem se estaria agora a voltar o povo de direita?

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