15 abril 2008

Estilitismo

O estilitismo é a doutrina que defende a separação entre a Igreja e o Estado, e ainda que a Igreja seja politicamente neutral em relação a todas as matérias do foro civil. Como já perceberam, não vale a pena procurar o termo estilitismo no dicionário porque não está lá (merci Benjamin), embora faça bastante falta.
A ideia de propor este tipo de postura para os movimentos religiosos ocorreu-me quando reflectia sobre a questão do laicismo como doutrina, do laicismo político e ainda sobre o activismo religioso em Espanha, durante a recente campanha eleitoral.

O laicismo, enquanto movimento materialista, racionalista e relativista, não tem uma visão sobre o futuro da humanidade, nem aceita princípios morais absolutos, porque na ausência de Deus vale tudo. O Estado laico enferma do mesmo problema e portanto os legisladores ficam à mercê dos lobbies e das maiorias do momento.
Deste modo, assuntos fracturantes como o divórcio a pedido, os casamentos gay, a eutanásia, a clonagem ou até a manipulação genética, entram nas agendas políticas e são regulamentados como se não tivessem quaisquer implicações morais e religiosas.

As Igrejas reagem com indignação e quase sempre assumem posições políticas, congregando os seus fiéis, criticando publicamente e até organizando manifestações de rua contra os governos (contra o Estado?). Penso que estas reacções, apesar de legítimas, são desaconselháveis. Corre-se o risco de transformar as Igrejas num simples lobby e dá-se o flanco ao anticlericalismo jacobino.

O exemplo de Simão Estilita pode ser inspirador. Do alto do seu pedestal a Igreja pode exercer mais influência do que na rua e inspirar mais reverência. O estilitismo pode ser a melhor resposta ao laicismo.

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