O ateísmo é uma crendice. Parece contraditório que eu faça esta afirmação porque o ateísmo é caracterizado, precisamente, pela falta de fé em Deus, pela afirmação do valor exclusivo da ciência e pelo laicismo. Contudo, uma análise racionalista demonstra que o ateísmo parte de uma negação e que o valor que atribuí à ciência, enquanto conhecimento ontologicamente desconectado, exige, por parte do ateu, um acto de fé que mais me parece crendice.
Os paradigmas científicos, segundo o autor do livro “The Strucuture of Scientific Revolutions” – Thomas Khun, englobam conhecimentos, valores e práticas aceites pela generalidade dos cientistas. Os objectos de estudo da ciência, o modo como são estruturados os inquéritos científicos e até a interpretação dos resultados, dependem do seu enquadramento geral e em particular da solidez dos alicerces filosóficos. Ora a negação original de que falei desconecta o conhecimento científico do necessário rigor epistemológico e relativiza-o ao ponto de ficar dependente da fé.
Como os paradigmas científicos sofrem revoluções e as verdades de hoje são falsificadas amanhã, a valorização excessiva da ciência, na ausência de absolutos, não é prudente.
Esta é, quanto a mim, uma das razões que tem desacreditado os cientistas aos olhos da população e que explica, por exemplo, porque é que a astrologia é mais popular do que a astronomia. Sem raízes, o conhecimento científico passa a ser apenas um discurso com tanta validade como qualquer outro.
E qual é essa negação original? É a recusa dos cientistas a responderem à pergunta: -Porquê o mundo? Porque não nada?
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