02 março 2008

Triste


A política é um fenómeno cada vez mais complexo, mas simultaneamente cada vez mais fácil de entender. A percepção pública sobre partidos e políticos está ao nível da sarjeta e existe um divórcio evidente entre quem elege e quem é eleito. A crescente abstenção é apenas a consequência efectiva desse afastamento, que é tanto maior quanto maiores forem as desigualdades económicas e sociais sentidas no país. Em Portugal, um dos países mais pobres da Europa e onde se sentem também as maiores desigualdades – entre classes sociais e entre regiões – o descontentamento tende a ser mais acentuado. A primeira reacção dos populares, quando questionados sobre a integridade da nossa classe política, é a de catalogar os partidos políticos através dos piores adjectivos possíveis. A segunda reacção é pragmática: à falta de melhor, deixem estar os que já lá estão – o PS de José Sócrates.

Os semanários deste fim de semana parecem indicar que, subitamente, o pragmatismo está a ceder ao idealismo e que o PS corre o sério risco de perder a maioria absoluta. Parece-me, ainda, prematuro prever a queda do actual executivo. O PS tem perdido intenções de voto por demérito seu na gestão de certas pastas como a Saúde e a Educação, e não por mérito da concorrência. Na Saúde, a nomeação da nova ministra, mais diplomata que Correia de Campos, veio acalmar o clima de crispação, até porque creio que certos aspectos da reforma serão metidos na gaveta até às próximas legislativas. Na Educação, embora a intenção do governo seja positiva – todos os sectores profissionais, docentes incluídos, têm de ser avaliados e recompensados em função de critérios de mérito – salta à vista a grosseira falta de habilidade política e técnica da actual ministra que, colocando alunos e encarregados de educação a avaliar os professores, elimina qualquer virtude que o novo diploma possa ter.

Fora do PS, a realidade é triste – muito triste. O PC é uma peça arqueológica. O BE é um conjunto avulso de idealistas sem ideários. O CDS é um partido fustigado por suspeitas de corrupção, em vias de extinção e que, provavelmente, não servirá sequer de plataforma para futuras coligações partidárias. E o PSD é uma telenovela mexicana. No PSD, há duas coisas que não entendo. Primeiro, como é possível que os “barões”, hostilizados pelos militantes do partido – as famosas “bases” – continuem com ambições de tomar o poder. É preciso ter lata. Segundo, como é possível que Menezes dispare em tantas direcções e não acerte em nenhuma. A estratégia de colocar Santana Lopes como líder parlamentar até parecia promissora: desgastar Sócrates, que antigamente nos debates da RTP perdia quase sempre para ele, destruir a maioria absoluta do PS e, depois sim, alienar Santana e emergir como líder único do PSD. Infelizmente, a deficiente articulação entre estratégia e operação, representada na pessoa de Ribau Esteves, vai custar ao PSD o resultado que Menezes procura: a derrota da maioria absoluta.

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