Daddy, what are the British really good at? Baby, we are really good at…(thinking)… killing people!
Jeremy Clarkson, The Times
Sem valorizar demasiado as tiradas humorísticas do Jeremy Clarkson, em que é que os britânicos são excelentes? Os britânicos são excelentes a organizar a desorganização. Reparem bem, não digo que são excelentes a organizar o caos ou a balbúrdia. Digo a desorganização porque o caos será o estado de desarranjo natural com que a natureza desafia a razão humana a retirar utilidade dos seus recursos. A desorganização, pelo contrário, implica já o resultado da própria acção individual ou colectiva.
Ora um dos aspectos mais salientes da sociedade britânica moderna é o afinco com que os ingleses de dedicam a organizar e resolver problemas que eles próprios criaram, enredando-se num novelo de regulamentos e normas que desafiam a inteligência.
Reparem, por exemplo no modo como os aeroportos do RU funcionam. O excesso de funcionários que pastoreiam os rebanhos de pessoas por entre corredores inesperados. Mais funcionários a controlar o fluxo de pessoas nas escadas rolantes ou nos elevadores. E as mensagens constantes a explicar a necessidade de todos os contratempos e arrelias que “afinal são para nos ajudar”, mas que mais parecem instrumentos de tortura. Tudo muito organizado! Podemos usar os telemóveis nos corredores mas temos de os desligar quando chegamos à linha amarela. Devemos levar o passaporte aberto na página da fotografia, eu sei lá...
Quando finalmente ultrapassamos todas estas dificuldades e atravessamos a zona da alfândega deparamos com outra gema deste talento organizativo, um enorme cartaz que informa: É estritamente proibido insultar ou bater nos funcionários do serviço de “Revenue & Customs” de Sua Majestade. Não vá o killer instinct vir ao de cima...
As proibições são constantes. Em muitos locais, para além de ser estritamente proibido fumar, também é proibido comer, beber, ou utilizar o telemóvel. Nos museus então os regulamentos atingem o limite do ridículo. Claro que são de graça e que qualquer anormal pode ir para lá curtir, mas desde que se comporte segundo um elaborado código bizantino.
Um último exemplo deste génio para organizar a desorganização. Na Escócia, que por enquanto ainda pertence ao RU, decretou-se que, no caso de atropelamento de peões fora das passadeiras, os transportes públicos não são obrigados a parar, nem a chamar o serviço de urgência, para melhor cumprirem os horários.
Se todos cumprissem os regulamentos, como o mundo seria perfeito. Claro que os portugueses admiram bastante esta capacidade para organizar a desorganização e, modéstia à parte, nalguns casos até podemos pedir meças aos bifes.
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