26 março 2008

organize

Daddy, what are the British really good at? Baby, we are really good at…(thinking)… killing people!
Jeremy Clarkson, The Times

Sem valorizar demasiado as tiradas humorísticas do Jeremy Clarkson, em que é que os britânicos são excelentes? Os britânicos são excelentes a organizar a desorganização. Reparem bem, não digo que são excelentes a organizar o caos ou a balbúrdia. Digo a desorganização porque o caos será o estado de desarranjo natural com que a natureza desafia a razão humana a retirar utilidade dos seus recursos. A desorganização, pelo contrário, implica já o resultado da própria acção individual ou colectiva.
Ora um dos aspectos mais salientes da sociedade britânica moderna é o afinco com que os ingleses de dedicam a organizar e resolver problemas que eles próprios criaram, enredando-se num novelo de regulamentos e normas que desafiam a inteligência.

Reparem, por exemplo no modo como os aeroportos do RU funcionam. O excesso de funcionários que pastoreiam os rebanhos de pessoas por entre corredores inesperados. Mais funcionários a controlar o fluxo de pessoas nas escadas rolantes ou nos elevadores. E as mensagens constantes a explicar a necessidade de todos os contratempos e arrelias que “afinal são para nos ajudar”, mas que mais parecem instrumentos de tortura. Tudo muito organizado! Podemos usar os telemóveis nos corredores mas temos de os desligar quando chegamos à linha amarela. Devemos levar o passaporte aberto na página da fotografia, eu sei lá...
Quando finalmente ultrapassamos todas estas dificuldades e atravessamos a zona da alfândega deparamos com outra gema deste talento organizativo, um enorme cartaz que informa: É estritamente proibido insultar ou bater nos funcionários do serviço de “Revenue & Customs” de Sua Majestade. Não vá o killer instinct vir ao de cima...

As proibições são constantes. Em muitos locais, para além de ser estritamente proibido fumar, também é proibido comer, beber, ou utilizar o telemóvel. Nos museus então os regulamentos atingem o limite do ridículo. Claro que são de graça e que qualquer anormal pode ir para lá curtir, mas desde que se comporte segundo um elaborado código bizantino.

Um último exemplo deste génio para organizar a desorganização. Na Escócia, que por enquanto ainda pertence ao RU, decretou-se que, no caso de atropelamento de peões fora das passadeiras, os transportes públicos não são obrigados a parar, nem a chamar o serviço de urgência, para melhor cumprirem os horários.

Se todos cumprissem os regulamentos, como o mundo seria perfeito. Claro que os portugueses admiram bastante esta capacidade para organizar a desorganização e, modéstia à parte, nalguns casos até podemos pedir meças aos bifes.

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