13 fevereiro 2008

realismo biológico

Este interessante post do Joaquim Sá Couto remeteu-me para o tempo em que me interessava por Etologia, que é a ciência que estuda o comportamento animal, nela se incluindo, como disciplina autónoma, a Etologia Humana, especificamente vocacionada para o comportamento da nossa espécie.

O entusiasmo que tive com a Etologia era, confesso, mais de índole política do que exactamente de ordem científica e académica. De resto, ao contrário do Joaquim, eu não tenho qualquer formação científica que me habilite a grandes aventuras na matéria. Menos ainda a tinha há cerca de vinte anos, quando me entusiasmei com as leituras de Lorenz, Eibsfeldt, Morris, Ardrey, entre outros.

Nessa altura, interessavam-me as eventuais extrapolações dessa «biologia do comportamento» para as ciências humanas e especialmente para a política. A ideia de que os animais, entre os quais os humanos, estavam geneticamente determinados por instintos de território, de hierarquia, de sexualidade e de agressividade natural, pareciam-me particularmente simpáticos para ajudarem a refutar algumas teses de esquerda, principalmente as que se fundavam sobre o paradigma rousseauniano do «bom selvagem». Praticamente todas, portanto.

Vinte anos passados, continuo a acreditar que o comportamento humano depende de uma interacção permanente entre o inato e o adquirido. Mas estou firmemente convencido, pelo que vou vendo e conhecendo, que a espécie é mais determinada pela sua natureza do que pela ideologia. Isto é, que a nossa condição de seres humanos não permite qualquer tipo de construtivismo social e político, nem é propriamente moldável por golpes de génio ou pela vontade. A história do século XX, é, aliás, a da falência das ideologias e da afirmação da natureza do homem sobre os construtivismos que o tentaram moldar numa outra coisa qualquer. Na verdade, a implosão dos regimes socialistas deveu-se inteiramente à falta de humanidade dessa forma de construtivismo, que pretendia «fazer um homem novo», alheio ao individualismo, à propriedade, à religião e à liberdade, em prol de um colectivismo que não lhe é natural. Pena foi que não se tivesse compreendido isso antes de 1989, para o que teria bastado, por exemplo, uma leitura séria do Socialismo, de Mises, publicado na década de 30.

A minha chegada ao liberalismo, se não foi determinada inteiramente por este «realismo» antropológico de ascendência genética, não deixou de o ter em muito boa conta. É que, como os homens não são o que nós queremos que eles sejam, mas o que eles efectivamente são, comecei a acreditar que o laissez faire vai mais ao encontro da sua humanidade, do que uma utopia qualquer.

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