06 fevereiro 2008

moçambique

Em Moçambique vigora um regime curioso de partido único, onde a liberdade de expressão e a sua consequente liberdade de informação são relativamente amplas, sobretudo tendo como referência os parâmetros do continente africano. Uma certa abertura económica ao exterior, acompanhada de um crescimento superior à média do continente, e o envio massivo de estudantes para as Universidades estrangeiras, que já não são as da URSS, de Cuba e da RDA, mas as dos países «capitalistas» europeus, favorecerão ainda mais este clima de criação de liberdade.

Mas, também, é por demais evidente que existe ainda uma questão política a resolver, e que a crise de ontem realçou, que é a de encontrar um caminho que concilie a actual abertura política com uma necessária alternância real de quem manda. Por ora, essa circulação das elites dirigentes opera-se no seio da FRELIMO, que continua em regime efectivo de partido único, e dentro da qual existirão inúmeras tendências prontas a afirmarem-se em contradição umas em relação às outras. A falta, também, de uma orientação clara sobre a evolução do futuro do país, a resistência, por enquanto ainda muito forte, a modificações mais radicais na economia e até nalguns aspectos políticos que vêm do passado (por exemplo, os nomes das ruas da capital mantêm uma verdadeira galeria de terror), dificultam o que poderia ser uma evolução modelar nos países africanos.

Os acontecimentos de ontem demonstram que o regime está ainda à procura do seu caminho e que o país poderá, de um momento para o outro, sucumbir à tentação da violência. Só uma rápida transição para uma economia de mercado efectiva, aberta ao exterior, poderá consolidar instituições e fazer de Moçambique uma república fiável. Esperemos que assim seja.

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