02 fevereiro 2008

Fátima ou Kyoto?

A mãe é a que dá vida, a que nos cria e alimenta. A mãe é a que nos acarinha e conforta. Mas a mãe é também a que nos castiga quando nos portamos mal, a que nos censura, a que nos desmama e nos manda para a arena da vida. A mãe é aquela que adoramos incondicionalmente, mas também a figura que mais tememos e que mais receamos confrontar.
O arquétipo da mãe engloba a terra-mãe. A terra que nos deu vida e existência. A terra que nos alimenta a nós e aos nosso filhos. Mas a terra também tem forças tenebrosas que não controlamos e que nos amedrontam. Quando não respeitamos as suas leis podemos ser castigados e a nossa vida pode ficar em perigo.
O culto da feminilidade é tão antigo quanto a nossa existência e é um componente destacado do fenómeno religioso. Na cultura ocidental as figuras de Eva e de Maria correspondem a este arquétipo. Portugal, claro está, é um dos países onde o culto Mariano tem maior expressão.
O laicismo, enquanto movimento materialista e racionalista, despreza as manifestações religiosas e por certo o Marianismo, mas nunca poderá terminar com o culto da feminilidade que é da natureza humana. Este emergirá sempre, embora noutras roupagens. O fundamentalismo ecológico e o fervor religioso de alguns ambientalistas podem, na minha opinião, corresponder a este fenómeno e configurar uma versão moderna do culto Mariano, quiçá condicionada pelo laicismo dominante nos meios intelectuais.
A agenda ambientalista, com a sua devoção à terra-mãe e o apelo constante a sacrifícios e oferendas que temos de lhe fazer para que ela continue a gostar de nós e a alimentar-nos é bastante sugestivo. Se nos portarmos mal a terra-mãe castiga-nos e liberta as suas forças tenebrosas contra nós. Temos portanto de a apaziguar!
No justo equilíbrio, as preocupações com o meio ambiente são positivas e devem ser incentivadas. Enquanto culto, contudo, o ecologismo pode tornar-se perigoso. O recurso à violência, por parte de certos grupos de ambientalistas, revela elementos de fundamentalismo religioso e alerta para os perigos de não lidarmos bem com os nossos instintos ou até de os negarmos. É por isso que sou contra o laicismo enquanto doutrina filosófica.

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