Há muito que os portugueses sentem que o dinheiro lhes foge das carteiras. Sobretudo desde a entrada em vigor do Euro. Primeiro, foram os arredondamentos mal feitos. E, depois, com a introdução da nova moeda e a abolição de fronteiras alfandegárias, foi o espaço para a arbitragem do preços de bens semelhantes entre países diferentes que diminuiu bastante. Como Portugal tem crescido, cronicamente, menos que o resto da Europa, os preços, que entretanto convergiram para a média europeia, tornaram-se em muitos casos incomportáveis para a generalidade dos nossos cidadãos. O aumento do endividamento, concretizado no crédito ao consumo a crescer a 20% ao ano, e o acentuar das desigualdades sociais são as consequências visíveis do fenómeno inflaccionista que varre o país. Agora, temos a acrescentar a tudo isto, o aumento do preço das matérias primas agrícolas, que está para ficar.
Infelizmente, não há nenhuma receita mágica para acabar com a inflação. Em Portugal, a única alternativa é melhorar a produtividade do trabalho que permita suportar o aumento dos salários nominais e compensar a subida dos preços. Portanto, não é disso que vos quero escrever. O que me revolta, e serve de mote a este post, é o discurso oficial da "inflação a 2 ou 3%" que, indecorosamente, nos é comunicado pelos órgãos oficiais do Governo. Que não restem dúvidas: a inflação associada ao cabaz relevante das famílias portuguesas cresce a um ritmo muito superior. E há barómetros independentes que identificam essa escalada de preços. De acordo com o Expresso, apenas na segunda metade de 2007, "o indicador de preços Nielsen/Expresso subiu 4,9%". Este índice reúne 84 produtos de forte consumo doméstico. Então, caros governantes, não há inflação? Pois claro que não! As pessoas é que são estúpidas.
Sem comentários:
Enviar um comentário