29 janeiro 2008

O Tio


A Banca portuguesa está ao rubro. E, como diz o ditado, depois da tempestade vem a bonança. Já andávamos fartos das histórias do BCP. Depois, durante o fim de semana, ainda decidiram castigar-nos um pouco mais e deram-nos com o BPN. Mas, por fim, as boas notícias: a apresentação de resultados do BES.

O BES é, na minha opinião, quem mais tem beneficiado com as lutas que nos últimos meses têm atormentado o sector em Portugal. Em 2007, obteve lucros de 600 milhões de Euros, resultado de uma estratégia que privilegia o crédito a empresas, sobretudo àquelas que exportam. Vai distribuir um dividendo de 48 cêntimos por acção. E tem um rácio de capital próximo dos 7%.

O seu presidente, Ricardo Salgado, na gíria também conhecido como “o Tio”, foi recentemente eleito pelo diário espanhol “El País” como o homem mais influente em Portugal. A escolha não podia ter sido mais certeira. Conseguiu manobrar a OPA da Sonae sobre a PT da forma que lhe era mais conveniente. E conduziu o seu banco aos melhores resultados do sector em Portugal.

A estratégia do BES faz todo o sentido. Prefere emprestar dinheiro às empresas exportadoras. Porque, em Portugal, emprestar dinheiro ao povo é um negócio cada vez mais perigoso. É que há cada vez mais pobres. De acordo com o Eurostat, 20% da população portuguesa, aqueles que têm rendimentos inferiores a 60% da mediana do rendimento global, é pobre.

A performance do BES começa também a tornar-se visível no preço das suas cotações. É certo que, este ano, ao preço de fecho de ontem, acumula já uma importante perda. Contudo, esta é significativamente inferior às desvalorizações registadas nas cotações das acções dos seus principais concorrentes em Portugal. Mas é, acima de tudo, no longo prazo que a casa do “Tio” bate os adversários.

Nos últimos 11 anos, ou seja, entre Janeiro de 1997 e o dia de ontem, as acções do BES valorizaram a uma média mensal de 0,87% com um desvio padrão de 6,57%. Corresponde, no final do período, a uma rentabilidade acumulada de 139% (progressão geométrica das 132 variações mensais). Muito melhor que o BCP (apenas 17% em 11 anos). E, também, residualmente melhor que o BPI (128%).

Na apresentação dos resultados do BES, Ricardo Salgado afirmou “O que distingue o BES é a estabilidade accionista, de estratégia, de objectivos e de gestão”. Tem toda a razão. Vê-se nos lucros e reflecte-se nas cotações em bolsa. Na verdade, o segredo associado à maior performance em bolsa, face ao BCP e sobretudo em relação ao BPI, tem sido o menor desvio padrão das suas cotações – por convenção estatística, a forma mais simples de avaliar o factor “estabilidade”.

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