Perante o argumento que desenvolvi em posts anteriores segundo o qual o preconceito - no sentido do conhecimento herdado das gerações anteriores e que é utilizado de forma automática e acrítica pela geração presente - constitui uma importantíssima fonte de conhecimento racional - na minha opinião, a fonte mais importante de conhecimento racional existente na sociedade -, a questão que se coloca é a de saber se devemos questionar os preconceitos.
Por exemplo, uma geração que herda dos seus antepassados o preconceito de que o sol gira à volta da terra, deve estar pronta a utilizar esse preconceito para sempre e de forma inquestionável? Claro que não. Os preconceitos podem e devem ser questionados. E o avanço da ciência nos últimos séculos não tem sido senão o resultado da substituição de preconceitos. Embora o preconceito represente conhecimento racional acumulado por muitos milhões de pessoas que viveram antes de nós, a verdade é que as pessoas, e a sua razão, se enganam - e, por vezes, enganam-se em massa e ao longo de gerações sucessivas.
Por isso, devemos estar prontos a abandonar um preconceito em favor de outro - por exemplo, o de que a terra gira em torno do sol - perante evidência repetida e continuada em benefício deste último, a qual só pode ser fornecida pela experiência e confirmada pelo tempo. Enquanto esta evidência não existir, e não fôr confirmada pelo tempo, o preconceito deve ser a norma do comportamento humano.
Acerca do preconceito de Deus. Que evidência existe de que uma sociedade pode prosperar, ou sequer sobreviver, sem o preconceito de Deus? Nenhuma. Não é possível encontrar nenhuma sociedade na história da humanidade que o tenha conseguido - todas as sociedades que sobreviveram e prosperaram possuíam, e possuem, um Deus.
É certamente possível encontrar um homem - na realidade, existem muitos - que sobreviveram e prosperaram não acreditando em Deus. Por isso, é perfeitamente racional que um homem seja ateu. Porém, é já uma irracionalidade completa, e das maiores, que esse homem procure que todos os outros homens na sociedade sejam ateus - ou sequer a maioria. A sociedade não vai aguentar e ele será destruído com ela.
O mesmo ocorre em relação à homossexualidade. A homossexualidade pode representar um comportamento perfeitamente racional à escala de uma pessoa, ou de uma minoria de pessoas. Porém, à escala de toda a sociedade - ou meramente da sua maioria - é profundamente irracional, porque acaba - ou tende a acabar - com a vida humana e a própria sociedade.
Finalmente, os judeus. Que evidência existe de que os judeus, de forma continuada no tempo, tenham deixado de ser o foco de problemas entre as sociedades que os acolheram? Nenhuma. Ainda muito recentemente - há cerca de 60 anos, um pequeno lapso de tempo na sua história milenar - eles estiveram no centro de uma das maiores tragédias da humanidade. (E, na minha opinião dentro de poucos anos, estarão no centro de novos problemas, desta vez nos EUA, se é que não estão já agora).
Por isso, a atitude racional em relação aos judeus, entendidos como uma cultura, é o preconceito herdado do passado, o qual recomenda precaução. Tal não implica, como ilustrei acima a propósito de Deus, que o preconceito seja a atitude racional em relação a um homem particular desta cultura. A nossa experiência pessoal em relação a este homem, ou mesmo em relação a um pequeno grupo ou comunidade de homens pertencentes a esta cultura pode ditar que a atitude racional seja a inexistência do preconceito - e eu penso que esta é a atitude racional actualmente em Portugal.
Porém, à medida que essa comunidade cresce e os modos comuns de pensar, de sentir e de agir, enfim, a cultura das pessoas que compõem essa comunidade ganha maior peso na sociedade e se torna mais afirmativa, a atitude racional deve passar a ser a de olhar essa comunidade com uma prudência crescente - e eu penso que, actualmente, esta é a atitude racional em relação à comunidade judaica americana e, mais ainda, em relação à israelita.
Sem comentários:
Enviar um comentário