10 dezembro 2007

individualismo imaturo


No post anterior, o Joaquim Sá Couto colocou o dedo na ferida. Aqueles que, em Portugal, desejam o liberalismo anglo-saxónico (ou de tradição protestante), perdem o seu tempo a bramar contra o Estado, os políticos, a regulamentação, a constituição, o código penal ou a União Europeia e a citar as construções intelectuais de Hayek, von Mises ou Popper. Nunca chegarão ao liberalismo por aí. O problema está nos comportamentos individuais, aquilo que Sá Couto qualifica de individualismo imaturo e que, eu próprio, noutra altura chamei de individualismo do menino-mimado.

A blogosfera é, a este propósito, um laboratório extraordinário. É interessante como certas pessoas são capazes de apresentar um resumo bem articulado das ideias de qualquer daqueles autores, exporem uma tese bem elaborada acerca dos benefícios da redução do Estado na economia, ou sobre as vantagens da iniciativa individual, para logo a seguir, nos mais insignificantes dos seus comportamentos pessoais adoptarem atitudes que tornam radicalmente impossível a sociedade liberal que defendem.

A última peça que eu li na blogosfera que exprime o individualismo do menino-mimado de uma forma radical foi o post de despedida do Tiago Mendes do Atlântico. Na minha opinião, merecia a distinção do ano para o post do menino-mimado. Mencionarei apenas três aspectos, embora existam vários outros.

Primeiro, o tamanho do post onde ele diz tudo aquilo que lhe vai na alma, visando várias pessoas pelo meio, e quase nunca de forma simpática. Chegado ao fim daquele longo texto, fecha a caixa de comentários, não dando nenhuma chance àqueles que são visados de se defenderem, ou a outros de exprimirem os seus pontos de vista. A liberdade existe para ele, não para os outros.

Segundo, tendo redigido aquele longo post onde anuncia a sua saída - uma saída obviamente contra a sua vontade - ele adopta logo a seguir a atitude típica do menino-mimado, que é a de se vingar. E quando os leitores esperavam nunca mais ver um post do Tiago Mendes no Atlântico, deparam-se logo a seguir com uma série de sete outros posts cujo objectivo é a vingança pessoal (e sempre com as caixas de comentários fechadas).

Terceiro - e um dos aspectos mais salientes - é aquele em que o Tiago Mendes se indigna pelo facto de as suas afirmações em relação ao André Azevedo Alves terem sido tomadas como ofensivas. Se tais afirmações tivessem sido proferidas contra os directores da revista, ele ainda compreenderia; agora, contra o AAA, não. Por outras palavras, não se ofendem os chefes. Aqueles que estão ao nosso nível e, mais ainda, abaixo de nós, podem ofender-se à vontade. Obviamente que uma sociedade assim só é livre para os chefes, não para os que estão em baixo.

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