01 dezembro 2007

a culpa

Num post anterior, argumentei que a sobrevivência e a prosperidade de uma cultura depende de ela possuir um conjunto amplo de preconceitos eficazes à sua sobrevivência e prosperidade. Neste âmbito, gostaria de singularizar a cultura judaica como aquela que, provavelmente, assenta no mais amplo, no mais sólido e no mais eficaz conjunto de preconceitos que a humanidade já conheceu - os quais explicam a sua enorme capacidade de sobrevivência e propensão para a prosperidade.

A ideia de que os judeus constituem o povo eleito de Deus é, talvez, o mais conhecido preconceito da cultura judaica - e um preconceito altamente eficaz, ao qual voltarei em futuro post. O preconceito que me proponho aqui tratar é o de que os judeus, perante as comunidades exteriores, nunca admitem a culpa de nada. A manifestação mais conhecida deste preconceito é a sua recusa liminar e radical, que perdura até hoje, em admitirem qualquer responsabilidade na morte de Cristo.

No decorrer da sua longa história, vivida sobretudo no seio de comunidades possuindo culturas diferentes, os judeus estiveram frequentemente no centro de verdadeiras tragédias da humanidade, de que eles, em parte, acabariam por ser vítimas, mas que também vitimizaram muitos milhões de pessoas pertencentes a outras culturas. Não tem sido raro na história - e sobretudo no último século - os líderes dessas outras comunidades assumirem, em nome do povo ou da cultura que representam, a sua quota-parte de responsabilidades em tais tragédias humanas e pedirem perdão. Tem acontecido com chefes de estado e até com o Papa.

Nunca, porém, se poderá esperar um atitude idêntica, sequer um resquício dela, por parte de um líder judeu. Os judeus nunca têm culpa. A culpa é sempre dos outros. Os judeus foram sempre as vítimas. Os outros foram sempre os algozes. Não existe povo tão pronto a apontar o dedo como o povo judeu. Os mesmos episódios repetiram-se ao longo da história, com as mesmas consequências trágicas, às vezes separados por oceanos, noutras por séculos, no meio de culturas as mais diversas, e apenas com uma única constante - os judeus estavam no centro do conflito e da tragédia. Mas, como que por um milagre dos céus, eles nunca tiveram culpa de nada, eles foram sempre as vítimas, a culpa foi sempre dos outros, que foram também os algozes.

Trata-se, obviamente, de um preconceito - um preconceito talvez exclusivo da cultura judaica e que se tem revelado extraordinariamente eficaz para a sua sobrevivência e prosperidade. Não é difícil imaginar a atitude de espírito de um homem - e menos ainda a de um povo - que nunca assume a culpa de qualquer mal que venha ao mundo. Este homem ou este povo nunca tem problemas de consciência, nunca tem de pedir desculpa ou perdão, nunca se ajoelha, nunca se encontra naquela posição de fragilidade emocional e espiritual que é própria de quem se reconhece culpado.
.
Pelo contrário, este homem ou este povo está legitimado em tudo o que faz, os males que vêm ao mundo nunca são da sua responsabilidade, tudo aquilo que ele faz está certo e é abençoado por Deus. Um homem ou um povo possuído deste estado de espírito encara a vida e actua na vida com uma confiança, uma afirmatividade, um sentimento tão forte de auto-justificação moral, e uma indiferença tão grande pelos danos que as suas acções possam produzir aos outros, que se torna literalmente imparável.

Sem comentários: