Para desenvolver uma teoria do menino-mimado, a primeira tarefa é caracterizá-lo. O menino-mimado é um egoísta radical. Ele não gosta de ninguém, excepto de si próprio. Ele não mexe uma palha na vida, excepto se daí esperar retirar um benefício pessoal. Não existe nele uma ponta de altruísmo. Para ele, todos os meios justificam os fins, desde que conduzam à gratificação do seu ego. Ele invoca as leis básicas da moralidade quando elas o beneficiam, mas recusa-se a cumpri-las quando elas beneficiam os outros. Na sua visão, a vida é uma rua de um só sentido. Os motivos que o gratificam são frequentemente irracionais, meros caprichos, devaneios e fantasias. Quando contrariado, ele reage sempre de forma intempestiva - esperneia, faz birras, insulta, vinga-se.
Imaginemos agora uma sociedade ou um país constituído por um milhão de meninos-mimados. Como funciona esta sociedade, quais as suas principais características, supondo um regime de liberdade política ou democracia?
A primeira é a maledicência. Cada um diz mal de todos os outros. Numa sociedade equilibrada, a maledicência é um instrumento de reprovação e condenação social. Na sociedade dos meninos-mimados, a maledicência banaliza-se e perde esta função, tornando-se um mecanismo de igualização social. Na medida em que o menino mimado não suporta que alguém tenha mais do que ele, ou seja mais do que ele, a maledicência é apontada a todos aqueles que alcançaram algum relevo na sociedade como meio de os degradar e trazer de volta à norma geral. Na sociedade dos meninos-mimados, os melhores da sociedade são frequentemente aqueles acerca de quem se diz pior.
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