01 novembro 2007

a saltar

Foi na primeira vez que tive de mudar uma fralda - uma actividade que, numa certa fase da minha vida, eu viria a repetir muitas vezes - que, talvez numa atitude de evasão perante a repulsa, o odor e o embaraço da acção, eu me lembro de ter pensado que nem tudo aquilo que sai do corpo humano é bom, e acerca da importância da higiene.

E quando, talvez meia-hora depois, eu dei por concluída a tarefa - tempos mais tarde, eu viria a melhorar a minha produtividade para cerca de dois a três minutos - e me contemplava orgulhoso ao espelho enquanto lavava copiosamente as mãos, recordo-me de ter pensado: " Isto, não há nada que não se limpe!." Esta conclusão viria a revelar-se um exagero.
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Em breve, eu chegaria à conclusão que Deus (ou a Natureza, para os meus leitores agnósticos e ateus) tinha equipado o corpo humano com orifícios por onde todas as matérias que lhe são deletérias, senão mesmo tóxicas, poderiam ser expelidas e, em última instância, completamente removidas. Munido deste optimismo e praticando sobre os mesmos seres humanos indefesos - embora sempre na condição de suplente, quando a mãe estava ausente - eu passei da minha primeira experiência de higienista anal, para me tornar, não digo um expert, mas pelo menos razoavelmente proficiente, não apenas em higiene anal, mas também em higiene bucal e até vaginal.
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Porém, somente muitos anos mais tarde, eu me dei conta que a minha formação estava incompleta. Havia uma excepção - o cérebro. Era daqui que saíam as matérias mais deletérias e tóxicas para o ser humano - de longe, as mais fecais - mas ao contrário do ânus, da boca, do ouvido e até da vagina, não havia orifício por onde se pudesse meter a mão ou, pelo menos, um dedo e limpá-las de lá. Ao contrário das outras formas de higiene, a higiene cerebral só podia ser feita pelo próprio, e isso exigia tempo, paciência e maturação.

Por isso, eu não dei importância ao miúdo que saíu à espadeirada quando num post anterior me referi aos judeus, e até consegui racionalizar muito bem a situação. No fim de contas, quando ele andava ainda a saltar de um tomate para o outro, eu já limpava rabos a meninos - na altura, pelo menos, a dois. Mais surpreendente para mim foi verificar que o FJV e o Daniel Oliveira também só vão nesta fase e pareçam ainda acreditar que, em questão de matérias fecais, as principais saem do ânus.

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