29 novembro 2007

o dono do chicote

Infelizmente, o Pedro Arroja tem razão: aos portugueses o que lhes interessa é saber quem é o dono do chicote, isto é, quem manda nas instituições, profissionais, políticas, associativas, ou outras, em que estão envolvidos. Enquanto se pressente que o sujeito A, ou o sujeito B, tem o chicote na mão e pode, por isso, desferir sobre o lombo de qualquer um uma valente arreada, o cidadão português amocha e tece os maiores elogios ao chefe, faça ele o que fizer. Se intui que o dito cujo vai perder o comando, ou, pior ainda, se se apercebeu de que ele o perdeu mesmo, rapidamente o passa a desconsiderar e, onde via um tipo bestial, passará a ver uma inequívoca besta. Não por acaso, mas por necessidade de esclarecer o bom povo português, o slogan do Estado Novo era «quem manda, quem manda, quem manda?». E, à pergunta três vezes repetida, não fosse alguém não a ter percebido, a resposta era linear: «Salazar, Salazar, Salazar!».

Veja-se, sobre isto, e como exemplo mais do que perfeito do carácter do povo português, o caso de Jardim Gonçalves. Enquanto foi, inequivocamente, o «dono» do BCP, era um génio e um talento sem par. Quando começou a passar a pasta, transformou-se imediatamente num «velho» inoportuno, que já a devia ter largado há muito. O homem tem, desde que largou o chicote, o destino traçado: por mais que resista, acabará escorraçado pelos «seus» (como foi imediatamente pelo seu delfim) e não ficará dele memória no banco que fundou, dirigiu e transformou na maior instituição financeira privada do país em menos de uma década. O carácter nacional é assim. O Pedro Arroja tem razão. Infelizmente.

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