28 novembro 2007

nunca deram provas

Num post anterior, reiterei a opinião de que Portugal nunca deveria ter aderido ao euro - adesão que foi, na minha opinião, uma caso típico de dar um passo que é muito maior do que a perna. Como estaria hoje Portugal se não tivesse aderido ao euro?

Em primeiro lugar, convém especificar a política monetária ou cambial que teria sido seguida no caso de não-adesão. Na minha opinião, a política alternativa mais conveniente teria sido um peg ajustável. Seria tomada uma taxa de câmbio de referência face ao euro - por exemplo, a taxa de adesão de cerca de 200 escudos por euro - sujeita a ajustamentos periódicos.

A minha estimativa é a de que o euro estaria hoje cotado a cerca de 230 escudos. A inflação estaria cerca de 2 pontos percentuais acima do seu valor actual e as taxas de juro seriam entre 2 e 3 pontos percentuais mais elevadas. Estes dois factores teriam contido, em parte, o excesso de despesa e de importações que gerou o actual défice de transacções correntes.

A desvalorização acumulada do escudo em 15% - correspondendo aproximadamente à nossa perda de competitividade durante este período - tornaria hoje as nossas exportações 15% mais baratas nos mercados internacionais, e as importações 15% mais caras, contribuindo para reduzir o défice de transacções correntes. O crescimento económico seria da ordem de 3% ao ano - ligeiramente superior à média comunitária -, e o desemprego bem como a emigração estariam contidos.

A política de não-adesão ao euro possui, no entanto, um risco, cuja eliminação representa a maior vantagem da adesão. O regime de peg ajustável deixaria nas mãos dos portugueses a política monetária e cambial e teria de ser praticado com a disciplina necessária para deixar desvalorizar o escudo em cada ano somente a uma taxa correspondente à perda de competitividade da economia portuguesa face à economia europeia - cerca de 2 a 3% ao ano.
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Os portugueses nunca deram provas sólidas de se saberem governar em democracia. Não é, por isso, de excluir que, sob um tal cenário, a política cambial e monetária acabasse a ser utilizada para resolver outros problemas - como o financiamento dos défices orçamentais - lançando o país numa nova espiral de inflação, altas taxas de juro e desvalorizações consideráveis.

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