De acordo com a informação que é pública, os bancos mais afectados pela crise dos empréstimos de segunda qualidade são bancos americanos e ingleses. Porém, todos os bancos no mundo estão a ser afectados em maior ou menor medida.
As taxas de reservas que os bancos são obrigados a manter sobre os depósitos variam segundo a legislação nacional, mas não excedem em geral 5%. Tal significa que, por cada nota de um dólar que mantêm em reservas, os bancos podem conceder empréstimos até ao montante de 20 dólares. Não é difícil imaginar a situação em que fica um banco que contava receber US$50 como reembolso de um empréstimo antigo para fazer face, a título de reservas, a novos empréstimos de US$1000 que entretanto concedeu a outros clientes, e vê o pagamento falhar.
Este banco precisa urgentemente de recompôr as suas reservas - no exemplo, em US$50, correspondentes a 5% dos novos empréstimos de US$1000 -, ele precisa de cash, notas vivas de dólar. As reservas legais são estabelecidas tendo em conta os hábitos de levantamento dos depósitos por parte da população. Um banco com reservas abaixo do mínimo legal corre o risco de não ter dinheiro para reembolsar os depositantes que se apresentem aos seus balcões para levantarem cheques sobre as suas contas de depósito. Esta seria a mãe de todas as crises financeiras, gerando por parte da população uma corrida generalizada aos bancos em busca dos seus depósitos e levando os bancos, todos sem excepção, à falência.
Nesta situação de emergência, os bancos possuem duas soluções principais. A primeira é venderem precipitadamente outros activos que possuam em carteira, por exemplo, acções. É por esta via que a crise dos empréstimos de baixa qualidade se traduz numa queda das bolsas. Porém, esta solução tem limites, já que pode provocar um crash bolsista com consequências gravosas, e não apenas para os bancos. No caso de activos menos líquidos (v.g., activos imobiliários e títulos não transaccionados em mercados organizados, mas meramente over the counter), as limitações são idênticas, pois a sua venda precipitada teria de ser feita a preços de saldo, agravando as perdas dos bancos, e cilindrando pelo caminho muitos investidores inocentes.
A solução mais pronta é a de o banco central conceder empréstimos aos bancos comerciais. Esta disponibilidade acrescida para conceder empréstimos aos bancos comerciais leva o banco central a baixar as taxas de juro a que esses empréstimos são concedidos. Ao longo dos últimos três meses o Fed tem vindo a baixar estas taxas de juro, e nisso tem sido imitado pela generalidade dos bancos centrais.
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Porém, a baixa das taxas de juro não se reflectirá em crédito mais barato para o consumidor final. Pelo contrário. Trata-se de um mero expediente para permitir aos bancos comerciais recomporem as suas reservas. Do lado da concessão de crédito por parte dos bancos comerciais, a contenção é enorme, tornando-se o crédito cada vez mais escasso e mais caro. É por esta via que a crise dos empréstimos de baixa qualidade pode vir a lançar o mundo em recessão.
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