02 novembro 2007

esqueletos no armário

Em matéria de defesa da liberdade e dos direitos humanos, a esquerda europeia do século XX pode bem limpar as mãos à parede. Para que não sobejem equívocos, refiro-me à esquerda que se conformou com o Muro de Berlim e a Stasi, com os gulags, com a invasão da Hungria de 56, com a «Primavera de Praga» de 68, que virou a cara para o lado para não ver Jan Palach, que justificou o imperialismo soviético em África com as «lutas de libertação», que proclamava o «better red than dead», que vibrava (e vibra) com a Cuba de Fidel e do «Che» e com a subserviência de Sartre e da intelligentsia marxista ao imperialismo soviético. Para tudo isto havia sempre um «sim, mas também…». E o «mas» atirava sempre para o «imperialismo americano», para o «Vietnam», o eterno Vietnam, e para as «necessidades do processo revolucionário». Para cada atropelo à liberdade, havia sempre um «mas» justificador, no mínimo, desculpabilizador.

Esta esquerda, de resto, enchia sempre a boca com as «liberdades», mas raramente falava na «liberdade». É que aquelas podiam ser diminuídas consoante as conveniências dos líderes históricos e das «necessidades» da revolução, enquanto que a defesa da liberdade não lhes permitiria qualquer espécie de transigência. Se hoje apenas elogiam o Grande Comandante Fidel e procuram ver em Chávez um seu herdeiro digno e um combatente do «imperialismo», se já não prestam vassalagem a outros tiranetes e se consolam a queimar velas e incensos ao «Che», isso não se deve a terem aprendido a gostar mais da liberdade, mas somente ao facto dos ditos tiranetes estarem em vias de extinção.

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