Num post anterior, o rui a. defendeu que não é possível ser liberal sem ser, até certo ponto, também conservador. E que um liberal em Portugal - ou em qualquer outra parte do mundo - não pode ignorar as tradições e as instituições que ancestralmente formaram a sua cultura, referindo-se, em particular, à Igreja.
Portugal é uma nação com quase nove séculos, e antes da nação se ter constituído já tinham vivido milhões de pessoas no seu território ao longo dos milénios precedentes. Muitas dessas pessoas - senão mesmo a maioria - possuiam o ideal de liberdade e muitas gerações antes de nós deram passos para o realizar. Houve também alguns recuos. Existe, portanto, uma tradição de liberdade na nossa cultura e essa tradição desenvolveu-se com as instituições que ao longo de muitos séculos nos serviram e aos nossos antepassados - e uma das principais foi a Igreja Católica.
Não é possível realizar a liberdade contra as nossas tradições e as nossas instituições. A tarefa de um intelectual que tenha a liberdade em grande apreço é, em primeiro lugar, a de conhecer como esse ideal surgiu e foi desenvolvido na sua cultura. Ao fazê-lo, ele vai encontrar-se com a moralidade cristã e com o pensamento católico. E só depois de compreender o conceito católico de liberdade, ele estará em condições de dar as primeiras contribuições ao desenvolvimento do pensamento liberal de uma maneira que seja útil e relevante.
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Provavelmente, um dos fenómenos mais significativos da blogosfera portuguesa é o número de liberais que ela possui - e alguns até se disputam entre si sobre quem é mais liberal. A intelectualidade portuguesa com pretensões é dada a estes fenómenos. Há 30 anos era de esquerda e com sangue árabe. Agora, é predominantemente judaica e liberal.
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Fica-se, por vezes, com a sensação que a generalidade dos liberais portugueses inventaram o ideal de liberdade. É preciso que se diga, no entanto, que, quando eles nasceram, o ideal de liberdade já cá andava há muitos séculos, e que o pensamento dos padres da Igreja - durante muito tempo praticamente os únicos letrados que existiam no país - foi decisivo para o seu desenvolvimento. Seria, na realidade, pouco provável que a humanidade tivesse ficado à espera até ao século XXI para que em Portugal alguns liberais de aviário viessem ensinar-lhe o que era a liberdade - ao jeito de quem tira coelhos da cartola.
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Aquilo que a generalidade dos liberais da blogosfera mais necessita é estudar - uma actividade a que os portugueses não são muito dados, como referi num post anterior. O intelectual português é tipicamente um homem de ideias feitas - as ideias brotam-lhe do espírito sem se conhecer muito bem a sua origem -, o que normalmente é sinónimo de preconceito. O maior é contra a Igreja. Para quem passa o tempo a salientar as vantagens das instituições privadas, teriam na Igreja o exemplo por excelência: a mais duradoura, a mais sofisticada e a mais rica de todas as instituições privadas que alguma vez existiram no mundo.
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