Provavelmente um dos maiores clássicos da literatura sobre o antisemitismo é o livro de Bernard Lazare (1865-1903), L'Antisémitisme, son histoire et ses causes - um livro publicado pela primeira vez em França em 1894. Lazare era um intelectual judeu profundamente envolvido e impressionado com o affaire Dreyfus.
Lazare nota no Prefácio que o "antisemitismo, que floresceu em todos os países e em todas as idades, antes e depois da era Cristã, em Alexandria, Roma e Antióquia, na Arábia e na Pérsia, na Europa medieval e moderna, em todas as partes do mundo onde existem ou existiram judeus - o antisemitismo, parece-me, não pode resultar de mero preconceito ou fantasia, mas tem de ser o resultado de causas sérias e profundas". E, mais adiante: "Na medida em que os adversários dos judeus pertenceram a diferentes raças, vivendo muito separadas umas das outras, governadas por leis muito diferentes e princípios opostos; na medida em que elas eram diferentes umas das outras nos seus costumes e no seu espírito, de tal maneira que não seria possível julgarem da mesma maneira qualquer assunto, tem de se concluir que as causas gerais do antisemitismo residem no povo de Israel, e não naqueles que o antagonizaram".
Lazare parte então para a investigação das causas do antisemitismo, que ele identifica como sendo de natureza política, económica, social, religiosa e, mais geralmente, cultural. Ele salienta, em particular, a propensão dos intelectuais judeus para se tornarem revolucionários e agitadores, e para estarem por detrás - às vezes participando activamente - dos movimentos intelectuais e políticos que conduziram a mudanças radicais na sociedade. Karl Marx é um exemplo, mas é também salientada a influência desproporcional dos intelecuais judeus no movimento da Reforma Religiosa e da Revolução Francesa, bem como nos movimentos intelectuais do ateísmo e do jacobinismo. O próprio Lazare, sendo um anarquista, possuía o traço revolucionário e agitador que ele identifica na sua própria cultura.
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