12 novembro 2007

acusar

Provavelmente, uma das características mais salientes da cultura judaica é a sua capacidade para se inocentar de tudo aquilo que acontece no mundo, e ao mesmo tempo a sua capacidade para acusar, dando razão àqueles que afirmam que a melhor defesa é o ataque.

Trata-se de um instrumento de defesa que a cultura judaica utiliza com extraordinária eficácia. Como argumentei num post anterior, uma cultura assenta essencialmente na fé acerca dos seus valores. Por isso, uma cultura que pretenda sobreviver - e este tem sido seguramente o caso da cultura judaica - e prosperar, não pode sacrificar-se aos pergaminhos da razão. Ela tem de utilizar todos os instrumentos de defesa aos seu dispôr, sejam eles racionais ou não.

No último post, acerca de Gary Becker, procurei ilustrar como um intelectual de primeiro plano, defensor ao longo de uma vida dos valores da liberdade e da racionalidade, facil e habilmente passa por cima desses valores quando se trata de proteger Israel - naturalmente o país mais beneficiado, talvez mesmo o único, com a intervenção americana no Iraque.

Noutra ocasião, tendo referido como os judeus foram perseguidos ao longo de quase cinco milénios, por povos muito distanciados uns dos outros quer no espaço quer no tempo, levantei a questão legítima de saber se eles próprios não teriam dado os motivos para tão estranha convergência e coincidência de opiniões por parte de povos que não tinham maneira de comunicar entre si. Nunca a cultura judaica alguma vez admitiu, ou vai admitir, qualquer responsabilidade nestes acontecimentos. A culpa foi sempre de quem a perseguiu, ela foi sempre a vítima, e o motivo sempre o mesmo - o preconceito do antisemitismo por parte de quem a acolhia.

Ao longo deste ano nos EUA, como mostra este vídeo, tem-se procurado discutir a questão de a AIPAC - um lobby judaico - andar a influenciar o Congresso para mover uma guerra preventiva contra o Irão. Porém, como salienta o entrevistado, torna-se impossível levantar a questão, quanto mais discuti-la, porque quem o faz - incluindo figuras influentes da política americana - é prontamente acusado de antisemitismo, inviabilizando toda a discussão.

A conclusão a tirar é a de que uma cultura não se defende por meios racionais apenas. Uma cultura defende-se por todos os meios - se quer sobreviver e prosperar.

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