13 novembro 2007

fazem guerra

A maneira como terminei o meu último post afirmando que "(...) uma cultura não se defende por meios racionais apenas. Uma cultura defende-se por todos os meios (...)" parece excessiva aos meus próprios olhos, e parecerá excessiva aos olhos da maior parte dos meus leitores. Vale tudo - será a pergunta - incluindo a decepção, a mentira, e mesmo a guerra?

A minha formulação, porém, não parecerá provavelmente excessiva aos olhos de quem escreve assim:

"As culturas fazem guerra umas às outras. Têm de fazê-la porque os valores [culturais] só podem ser afirmados submetendo outros, não argumentando com eles. As culturas têm percepções diferentes, as quais determinam aquilo que o mundo é. Não podem chegar a acordo. (...) Cultura significa a guerra contra o caos e contra outras culturas. A própria ideia de cultura contém em si um valor: o homem necessita de uma cultura e tem de fazer tudo aquilo que é necessário para criar e manter a sua cultura. (...) Portanto, um relativista cultural [como Nietzsche] tem de cuidar da [sua] cultura, mais do que da verdade, e lutar pela [sua] cultura (...)."(1)

Um filósofo português que escrevesse assim dificilmente seria tomado a sério, tanto mais que a cultura portuguesa é o oposto disto, não apenas nas palavras, mas na sua experiência histórica. A própria passagem acima seria tomada como mera filosofia, ideias que saem da pena do filósofo mas não têm consequências práticas.
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Existem, porém, outras maneiras de ver a vida para além da portuguesa - outras culturas. Existem culturas que atribuem grande importância às ideias como instrumentos directores da acção - como a cultura judaica. A passagem acima foi escrita por Allan Bloom (1930-92), o filósofo judaico geralmente considerado o pai do neoconservadorismo americano, e que foi professor de alguns dos mais destacados intelectuais e políticos judaicos que participaram na definição e na implementação da política do Presidente Bush.
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A guerra entre culturas; submeter outras culturas; fazer tudo aquilo que é necessário para manter a cultura; colocar a defesa da cultura, se fôr necessário, acima da verdade. Eu vejo aqui, em traços largos, a influência judaica na política externa americana dos últimos anos - seguramente, na sua intervenção no Iraque, a qual serve para proteger Israel.
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(1) Allan Bloom, The Closing of the American Mind, New York: Simon & Schuster, 1987, p. 202.

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