Uma criança recém-nascida que, se for deixada livre e entregue à sua sorte, morre de fome no espaço de dias é, não obstante, o ideal de liberdade expresso por Rousseau: "os homens nascem livres e por toda a parte eles vivem acorrentados". Uma criança nestas condições é obviamente a menos livre de todas as criaturas.
A liberdade - para quem preza este valor - conquista-se ao longo da vida. A pobreza - e mais geralmente, a dependência económica -, é um dos piores inimigos da liberdade. O adolescente que nas férias, ocupa o seu tempo a trabalhar para ganhar um rendimento temporário, por mais modesto que seja, está a educar-se para a liberdade.
O homem de 35 anos que tem um emprego para sustentar a sua família não é ainda um homem livre - há verdades da sua consciência que, por vezes, ele não pode exprimir por medo da retaliação do chefe. Porém, continuando a trabalhar - e trabalhando bem - um dia ele próprio será chefe, e até patrão, e terá dado mais um passo a caminho da liberdade.
Porém, não é somente a superação da dependência económica que conduz um homem à liberdade. Existem outras dependências que, sendo mais subtis, são muito mais difíceis de superar - refiro-me aos interesses e às paixões. Aquele homem que sistematicamente se demarca dos outros - aquele que está sempre do contra - para marcar a sua individualidade, não é um homem livre. Ele é um escravo do seu próprio egoísmo.
Provavelmente, as maiores lições que um homem ou uma mulher recebe ao longo da sua vida no caminho para a liberdade é quando se torna pai ou mãe. Até aqui ele ou ela pensaram só em si, ou predominantemente em si, e por isso, eram presas frequentes do seu próprio egoísmo. Pela primeira vez, esse homem ou mulher encontra-se agora na situação de ter de pensar e de tomar decisões que afectam a vida de outra pessoa - e de uma pessoa a quem ele ou ela quer bem. Pela primeira vez, ele ou ela sente na pele o valor do altruísmo. Algumas decisões são dramáticas e o apelo à consciência passa a ser recorrente, frequentemente acompanhado de incerteza e amargura. Mas é assim que ele ou ela vai apreendendo o que é a liberdade.
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