Na sua crónica de hoje no Público, Frei Bento Domingues cita um estudo de Millán Arroyo Menendez sobre Religiosidade e valores em Portugal: comparação com a Espanha e a Europa Católica. O estudo inclui os países seguintes como termo de comparação: Áustria, Bélgica, Espanha, França, Itália, Irlanda e Polónia.
Os traços que caracterizam a religiosidade portuguesa são os seguintes: (i) uma alta identificação religiosa com o catolicismo; (ii) um elevado nível de crença em Deus; (iii) uma forte crença num Deus pessoal (iv) uma elevada confiança na instituição religiosa; (v) uma prática religiosa não tão elevada como a sua identidade católica, expressa mais na oração individual do que na assistência à missa; (vi) uma fraca crença na vida para além da morte.
No item (iii) - um forte crença num Deus pessoal - Portugal só é excedido pela Polónia. E no item (iv) Portugal é mesmo o primeiro em toda a Europa católica. Segundo o estudo, o nosso país é o que possui uma relação mais intensa com a Igreja Católica, e essa ligação não dá sinais de enfraquecimento, ao contrário do que sucede, por exemplo, em Espanha.
Estes itens, em que Portugal figura no topo, legitimam de algum modo, as hipóteses de base que tenho utilizado para formular algumas teses que tenho vindo a defender. Por exemplo, a nossa tradição de autoridade altamente pessoalizada impede em Portugal o funcionamento eficaz de instituições onde a autoridade é impessoal - a democracia, o mercado, a sociedade anónima, a opinião pública, a soberania da lei.
Por outro lado, a nossa estreita ligação cultural à Igreja Católica - Portugal nasceu protegido à sombra da Igreja - tende a tornar estranhas, e por isso, perturbadoras no país, ideias e instituições que são estranhas ou adversas à tradição da Igreja, v.g., o sufrágio universal, a ideia de liberdade sem autoridade, o jacobinismo, a organização partidária do poder.
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