O PSD foi fundado por Francisco Sá Carneiro, certamente o mais talentoso e carismático político português do século passado. Sá Carneiro tinha autoridade sem ser autoritário. Tinha carisma natural sem ter que o impor a golpes de mau génio. Sá Carneiro foi, juntamente com Adolfo Suarez, o primeiro líder da direita europeia mediterrânica a quebrar o paradigma do bonus pater familiae autoritário e castigador, que pensa por todos e decide por cada um. Nessa altura, a direita vivia ainda da imagem de De Gaulle, para não dizer, quanto à direita portuguesa, na miragem de Salazar, que já Marcelo Caetano «traíra» por falta de autoritarismo. Sá Carneiro era um homem verdadeiramente liberal, no mais nobre sentido da expressão. Defensor da liberdade de expressão, da liberdade individual contra a soberania do Estado, da propriedade privada contra o colectivismo. Foi essa falta de liberdade, essa ausência de soberania individual, que o incomodou no salazarismo. No fim de contas, tinha toda a razão: porque haveria um homem, chamasse-se Salazar ou outro nome qualquer, de substituir-se ao que ele e os outros pensavam sobre o país? A direita nunca o viu com bons olhos. O PSD, sobretudo as suas «elites», perante ele, oscilavam entre o temor e a desconsideração (o caso do seu casamento «caía mal»), mas nunca se reviram nele. Foi ele, contudo, o fundador do PSD e o homem que levou a direita para o governo a seguir ao 25 de Abril, estabilizando definitivamente o regime. Se não tivesse morrido tão prematuramente, a história da III República teria sido mais do que seguramente muito diferente daquela que foi.
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