Longe de mim o atrevimento de me arvorar a opinar na discussão entre o RAF e o PPM, que gira em torno dessa autêntica pedra filosofal da ciência política que é o conceito de «elite». Para mim, a coisa cirandava entre as obras bolorentas dos sociólogos do fim do século XIX, inspiradas em Pareto, e os filosofes franceses do século passado, como o sagaz Sartre, a quem se deu o nome belicoso e ofensivo de «intelectuais». A ideia, segundo julgo, andará mais ou menos em torno disto: haverá na sociedade pessoas especialmente dotadas intelectualmente, cujos esforços meditabundos permitem encontrar grandes soluções para os grandes problemas da humanidade. Sem esta gente não pode haver felicidade nem progresso, e a sociedade, os homens e os indivíduos estão condenados à miséria e ao opróbrio se não os tiverem ao seu lado. Em Portugal, a coisa costuma ter quase sempre o inequívoco significado de uma desalmada vontade de aceder a uma côdeas do orçamento do Estado, escondida atrás de ums quantos livros e artigos de jornais, ou diluída em protagonismos audazes em associações de interesses vários. Pareto achava que a história era um «cemitério de elites». Lá teria as suas razões. Eu, francamente, penso que os cemitérios desdizem o conceito: cheios de «imprescindíveis» estão eles desde sempre. E termino sugerindo que se estabeleça um paralelismo com o conceito de «vanguarda do proletariado», essas elites do bolchevismo que Lenine, o príncipe empalhado do comunismo, tão bem caracterizou. Vão ver que, entre um e outro, a diferença não é muita.
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