30 outubro 2007

existe uma luta


No dia em que Joseph Ratzinger foi eleito Papa, em Abril de 2005, eu estava sintonizado numa cadeia americana de televisão a observar os desenvolvimentos da Bolsa de Nova Iorque, e foi por aí que recebi a notícia. As opiniões dos analistas que foram chamados a comentar a escolha não eram muito entusiasmantes, e nalguns casos eram mesmo frias. Ratzinger era visto unanimemente como um conservador e um doutrinador estrito. Julgo também que foi mencionado o facto de a combinação que ele representava - alemão e católico - não ser propriamente a mais feliz (embora um Papa tenha de ser, pelo menos, católico).

Estes foram elementos suficientes para despertar a minha atenção sobre a vida e a obra de um homem que, ao longo dos últimos anos, somente de uma forma distante eu tinha ouvido falar. Mais tarde, o episódio de Ratisbona, viria mostrar que ele é de facto aquele tipo de pessoa que suscita alguma adversidade - por onde passa, deixa uma marca - e esse é o tipo de pessoa que eu aprecio.

Procurando alguns dos seus escritos ou entrevistas anteriores, não me foi difícil compreender as razões da adversidade. Por exemplo, em Novembro de 2004, numa entrevista ao diário italiano La Republica: "Existe uma agressividade ideológica secular, que pode ser preocupante. Na Suécia, um pastor protestante que condenou a homossexualidade baseando-se numa passagem das Escrituras passou um mês na cadeia. O laicismo já não é aquele elemento de neutralidade que abre espaços de liberdade a todos. Começa a transformar-se numa ideologia que se impôe através da política e que não concede espaço público à visão católica e cristã, que corre o risco de se converter em algo de puramente privado e, no fundo, mutilado. Neste sentido, existe uma luta e devemos defender a liberdade religiosa contra a imposição de uma ideologia que se apresenta como se fosse a única voz da racionalidade, quando é somente a expressão de um 'certo' racionalismo".

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