É a extraordinária incapacidade de um povo de cultura católica para chegar a consensos, a morte certa de toda a proposta de acção colectiva que é colocada ao debate público (cf. em Portugal, da última vez, o aeroporto da Ota), a aversão radical a todas as ortodoxias, que torna Portugal e os países de tradição católica os campeões da liberdade individual.
Pelo contrário, é a enorme capacidade para gerar consensos nos países de tradição protestante, que constitui hoje em dia a maior ameaça à liberdade individual no Ocidente. Foi assim nos dois últimos séculos. As grandes ideologias do século XX que mataram milhões de pessoas - como o nazismo e o comunismo, uma delas pelo menos imposta pela via democrática - foram criações protestantes e seriam impossíveis num país de tradição católica onde, se estão representadas, possuem um carácter meramente ornamental.
Enquanto a tradição intelectual protestante de algum modo obriga o participante no debate a construibuír de forma positiva para uma ideia ou projecto em discussão - de tal forma que nunca lhe ocorre questionar as bases, e as ideias acabam, por vezes, por ganhar uma vida própria ao ponto de se tornarem ideologias -, a tradição intelectual católica começa por abanar a ideia ou o projecto até às suas raízes, e depois observa se alguma coisa ainda fica de pé. Normalmente não fica.
É esta atitude intelectual que garante a liberdade individual que é típica dos países de tradição católica - um escrutínio cruel e sem limites a toda a ideia que se apresenta como nova. O Papa Bento XVI é, neste aspecto, um intelectual católico por excelência e um verdadeiro defensor da liberdade individual. Na blogosfera portuguesa, provavelmente o melhor representante desta tradição é a zazie.
Sem comentários:
Enviar um comentário