17 outubro 2007

estariam na cadeia

Num post no Blasfémias, o JCD pretende contrariar a minha tese exposta em posts anteriores a respeito da liberdade de expressão na Irlanda, utilizando o ranking do Worldwide Press Freedom Index como se fosse um ranking da liberdade de imprensa nos vários países do mundo.

Mas não é. Aquele ranking é estabelecido a partir de um questionário respondido por um grupo de jornalistas em cada país do mundo sobre um conjunto de questões relativas à liberdade de imprensa no seu país. O resultado do inquérito estabelece o grau de conforto ou simpatia que os jornalistas de cada país exprimem acerca da liberdade de imprensa no seu país, e o ranking resultante é uma ordenação deste grau de conforto nos diferentes países do mundo.

Não ocorreria a ninguém estabelecer um ranking da qualidade dos vinhos no mundo usando metodologia semelhante, inquirindo em cada país, por exemplo, três produtores de vinho, acerca da qualidade do vinho no seu país. No primeiro país, todos respondem que é excelente, no segundo, dois respondem que é excelente e um que é boa, e no terceiro, um responde que é excelente e dois que é boa. Será legítimo concluír daqui que o melhor vinho do mundo é o do primeiro país e o pior o do terceiro? Claro que não. Um verdadeiro ranking da qualidade dos vinhos no mundo exigiria que o mesmo painel de pessoas apreciasse os vinhos de cada um dos três países.

Da mesma forma, um verdadeiro ranking da liberdade de imprensa no mundo exigiria que o mesmo painel de pessoas aferisse o mesmo conjunto de questões sobre a liberdade de imprensa em cada um dos países do mundo.

Eu apreciei, porém, o esforço do JCD. Os argumentos contestam-se ou com outros argumentos, desde que sejam racionais e fundados, ou com evidência empírica - não perseguindo ou lançando a infâmia sobre seu autor. Muito bem. Falhou desta vez. Mas, se persistir, vai conseguir numa próxima.

Do debate no Blasfémias, fica a conclusão de que a Irlanda consagra a censura constitucionalmente e pratica-a institucionalmente. E que uma das ofensas mais graves é precisamente a blasfémia, permitindo inferir que o Blasfémias seria proibido na Irlanda e que alguns dos seus membros, pelo menos, estariam na cadeia. De acordo com a minha tese, Portugal tenderia, em consequência, a tornar-se um país mais próspero, ceteris paribus.

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