17 outubro 2007

tropa de elite

Estreou recentemente em todo o Brasil um filme chamado «Tropa de Elite», que tem batido todos os recordes de bilheteira de filmes brasileiros e recolhido críticas muito favoráveis.

O filme versa sobre um comando da Polícia do Rio de Janeiro, o BOPEBatalhão de Operações Policiais Especiais, exclusivamente preparado para fazer frente, com particular dureza, ao crime organizado nas favelas cariocas. Foi realizado por José Padilha, um autor de esquerda, segundo o livro e o roteiro de Rodrigo Pimentel, um ex-BOPE, arrependido com a dureza dos métodos empregues pelo comando e que ele mesmo praticou.

A questão fundamental está na denúncia que o filme faz das supostas práticas de tortura utilizadas pelos operacionais do comando, bem como pela violência que é usada nas incursões que o comando faz às favelas. O assunto tem feito correr rios de tinta, a polémica mediática tem sido muita, e ainda ontem a excelente Marília Gabriela entrevistou o realizador e o argumentista no seu programa semanal da GNT. Nessa entrevista, o realizador contou uma história espantosa, quase inacreditável. Segundo ele, durante as filmagens recebeu alguns operacionais do BOPE, que pediram para lhe falar, convencido que o queriam pressionar sobre o conteúdo do filme. Afinal, queriam «apenas» corrigir algumas coisas do filme, nomeadamente as cenas de tortura, que estariam um pouco distantes da realidade, tendo-se prontificado a explicar como é que efectivamente essas práticas eram feitas.

Diga-se, por último, que o sucesso do filme tem sido acompanhado pela defesa dos procedimentos do comando, por parte da esmagadora maioria da opinião pública. O entendimento geral é de que só a dureza implacável da força policial poderá ser eficaz na «guerra» com as favelas, e que nessa «guerra» todos os procedimentos são legítimos e aceitáveis, mesmo que ponham em causa os direitos fundamentais.

Vistas as coisas do ponto de vista do Estado de Direito democrático, o que dizer sobre uma sociedade e um país que onde os poderes públicos recorrem a práticas deste tipo e que paralelamente admite a liberdade de expressão, o pluralismo partidário e eleições livres? É uma democracia? Uma ditadura? Uma democracia que tolera procedimentos das autoridades policiais que colidem com os mais elementares direitos fundamentais? Uma ditadura que se submete ao voto e à livre crítica da opinião pública e publicada? E, por fim, será que este género de situações não ocorrem também noutros países, em democracias consideradas avançadas e consolidadas?

Parece, em conclusão, que estas coisas da democracia, da liberdade e dos direitos fundamentais, são bem mais complexas do que à primeira vista parecem.

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