Completa-se nos próximos dias um ano sobre a data do início da minha participação na blogosfera, e eu não gostaria de a deixar passar sem marcar a efeméride. Eu não tenho escondido que, para mim, tem sido uma experiência muito interessante. Durante este período, e mesmo com dois meses de paragem, terei escrito cerca de setecentos a oitocentos posts entre o Blasfémias e o Portugal Contemporâneo, mas se me perguntassem qual deles foi o melhor e qual foi o pior, sinceramente, eu não saberia responder.
Aquilo que eu sei responder é qual dos posts me deu mais prazer, quer a escrevê-lo, quer na discussão que se seguiu na caixa de comentários. Aconteceu em Abril no Blasfémias. Havia já dois ou três meses que eu mantinha uma certa tensão com um grupo de comentadoras do blogue, perfeitamente conhecidas pelos seus nicks, e que eu imaginava serem jovens mulheres com cerca de 30 anos de idade ou até menos, predominantemente juristas, e perfilhando a filosofia da libertação feminina que está em voga - jovens mulheres a quem eu ocasionalmente tratava por meninas.
A tensão resultava de eu ter vindo a chamar a atenção no blogue para os benefícios para a mulher, do modelo tradicional da família portuguesa, o qual não recebia os seus favores. Por várias vezes, explícita ou implicitamente, elas me chamaram reaccionário, bota de elástico, machista, até misógino e outros nomes mais.
Elas defendiam a filosofia moderna da mulher livre - a mulher que é independente do marido, que coloca a sua carreira profissional num patamar mais elevado que a família e frequentemente não tem filhos, a mulher que partilha com o marido, não apenas as despesas da casa, mas que faz o marido partilhar todas as tarefas domésticas, incluindo cuidar dos filhos, a mulher que considera que o casamento é uma instituição antiquada, que defende a união de facto, e que está pronta a separar-se ou a divorciar-se sempre que alguma das condições anteriores não se cumprir.
Ao defender a família tradicional e o papel da mulher no seu seio, eu não tinha outro propósito no espírito do que o de contribuír para o bem-estar das mulheres - especialmente as mais jovens, as meninas, até porque, eu próprio, sou pai de duas -, afim de que a longo prazo elas não acabassem mal, por exemplo assim, ou, pior ainda, assim. Nada feito. Eu não iria convencê-las dos meus argumentos e, pelo contrário, era o alvo frequente da sua chacota sobre este tema.
Eu sei há muito por experiência própria que num confronto de palavras e argumentos entre um homem e uma mulher, a prazo, a mulher ganha sempre. Mesmo que o homem vença as primeiras batalhas, com o tempo, aquela persistência feminina para ficar a falar no mesmo assunto todos os dias, até à eternidade, acaba por conduzir o homem, primeiro à exaperação, depois ao desespero e, finalmente, ao abandono e à derrota. Então e se forem várias as mulheres, com aquela tendência para nunca se calarem e falarem todas ao mesmo tempo, a situação acaba por se tornar demolidora para o homem num curto espaço de tempo.
Eu sabia que era assim, tanto mais que desde há dois ou três anos, eu próprio vivia só entre mulheres, depois que os meus filhos se tornaram independentes e passaram a ter casa própria. Por essa altura, num fim-de-semana, cruzei-me com um amigo numa localidade onde costumo passar férias, um homem de educação rústica mas muito experiente na matéria - ele próprio pai de cinco filhas e um só filho. E nesse dia, em que eu sentia particulares saudades de voltar ao passado e ter ainda um filho em casa - só um que fosse - atirei-lhe:
-Pois é, sôr Carlos, isto de um homem viver sozinho no meio das mulheres é uma tragédia. Primeiro, elas dão-nos cabo da carteira, e depois dão-nos cabo da cabeça...
-O quê, senhor doutor? É muito pior. Elas capam-nos!
E enquando o meu semblante se alterava de um certo ar de desalento para um leve sorriso de incredulidade, ele disparou sem parar:
-O senhor doutor ri-se? Olhe, ponha um coelho a viver no meio das coelhas e vai ver que ao fim de alguns dias o coelho está capado. Elas comem-lhe os testículos!
Perante esta afirmação peremptória, eu lembro-me de ter curvado ligeiramente o corpo em sinal de agonia e cruzado as mãos entre as pernas, enquanto um sentimento de dôr me percorria as entranhas.
Ele era capaz de ter razão. Eu podia agora lembrar-me distintamente de outras situações análogas. O touro na arena cheio de vigor e violência, pronto a marrar contra tudo o que lhe aparecesse pela frente, toureiros, forcados, bandarilheiros, cavalos e cavaleiros. E, passado um bocado, quando entravam as chocas, ele perdia todo o vigor, baixava as guardas, parecia desorientado, parado no meio da arena, permanecia uns minutos hesitante e, finalmente, cabisbaixo, lá seguia as chocas para onde elas o quisessem levar - e o destino final não era bom.
Eu estava agora certo do meu fim. Naquele confronto com as meninas do blogue acerca da situação da mulher, eu iria perder, mas não sem que cometesse um acto de heroísmo pelo meio e lhes infligisse um rude golpe também. E nos dias seguintes, um pensamento passou o dominar os meus dias, ao ponto de se tornar uma obsessão: "Tenho de apanhar aquelas meninas de alguma maneira, quando elas menos esperarem, e no sítio em que mais lhes vai doer - a sua feminilidade."
E com este pensamento no espírito, os dias foram passando...
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