20 outubro 2007

do que um coxo

Depois deste interlúdio, em que me deixei levar pela distracção do JCD, eu gostaria de retomar o fio da minha meada, e informar os meus leitores habituais do propósito que me anima. O interlúdio JCD foi voluntário, porque eu considerei que tinha atingido uma etapa importante com o post a censura e o desenvolvimento, e podia oferecer-me agora dois ou três dias de férias e de algum divertimento entretendo o JCD e os seus apaniguados a negar a evidência de que existe censura na Irlanda - e também a apanhá-los em certas contradições. No mundo das ideias, apanha-se mais facilmente um intelectual amador do que um coxo.
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A etapa importante foi a seguinte. Há muitos anos que eu procurava uma explicação para a diferença radical que existe entre a importância da opinião pública num país protestante, e o efeito nulo, senão mesmo deletério, que ela possui numa democracia católica. Através da série de posts que culminaram naquele que acima referi, julgo ter desvendado este mistério. E a minha conclusão principal é a de que, sem certas restricções à liberdade de expressão, um país católico não progride - na realidade, corre sérios riscos de regredir. A evidência empírica que encontrei nos regimes de Salazar, Franco e Pinochet ou na Irlanda moderna pareceu-me satisfatória para suportar esta conclusão.
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Não existe civilização - menos ainda, um país - sem a ideia de Deus. No caso de Portugal, a ideia de Deus chegou à população através da Igreja Católica. O próprio país nasceu abrigando-se à sombra da Igreja Católica. A Igreja voltou a ser importante na restauração de 1640, pois uma boa parte da oposição ao domínio espanhol abrigou-se nas igrejas. Mais, Portugal é um dos poucos países da Europa que nunca conheceu divisões, e menos ainda, guerras religiosas. Estas devem ser razões suficientes para quem anda à procura de compreender a sua cultura e a dos seus, para eleger a Igreja Católica como o factor dominante dessa cultura.
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A cultura portuguesa é certamente um fenómeno demasiado complexo para ser o resultado de um só factor. Outros factores existirão, como o clima e os próprios acidentes da história. Dentre todos, no entanto, a Igreja Católica parece-me ser, de longe, o principal. Daí o meu interesse prioritário pela Igreja e a sua relação com a nossa cultura. A abordagem do problema nem sequer é original e remonta a Max Weber e, antes dele, a Antero de Quental.
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Porém, se a abordagem não é original, algumas conclusões a que tenho chegado parecem-me originais, por entre todos os autores que eu conheço e que seguiram esta linha de pensamento, a tal ponto que eu próprio, por vezes, fico surpreendido por elas. Aconteceu assim a respeito do tema da opinião pública.
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Finalmente, a questão: o que me leva a fazer isto? Nada, senão o prazer que sinto em compreender coisas que antes não compreendia - o prazer da descoberta. Eu não pretendo arrastar ninguém atrás de mim, nem acredito que, em massa, isso fosse possível - certamente que não num país católico. Na realidade, em consonância com a minha tese acerca do valor da opinião pública num país católico, 99% dos comentários aos meus posts não me servem para nada. Porém, aquele 1% que resta tem sido de uma utilidade extraordinária. Tem sido este 1% que me faz gostar da blogosfera, porque tem sido ele, frequentemente, a indicar-me novos caminhos e a fazer-me arrepiar outros. Há uns meses atrás, cheguei a fazer posts sobre os comentadores que eu considerava os mais valiosos da blogosfera. Hoje juntaria, mais alguns. Portanto, eu escrevo para mim e para aqueles que me querem acompanhar nesta viagem fascinante, que é a de tentar descobrir como funcionam as sociedades humanas - e, em primeiro lugar, aquela a que eu pertenço.
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Então, e se eu cometer erros de lógica ou de julgamento e chegar a conclusões erradas?Que importa, alguém vai morrer por isso? Certamente que não, a menos que me atribua uma importância que eu próprio não me atribuo a mim mesmo.

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