Provavelmente, uma das grandes dificuldades ao triunfo da democracia em Portugal resulta da enorme pessoalização da nossa cultura e dos seus reflexos nos partidos políticos.
Salazar já tinha observado esta dificuldade em 1933 em entrevista a António Ferro: "A Inglaterra vive, pode dizer-se, há séculos com os seus dois partidos alternando-se no poder, e até ao presente tem-se dado bem com isso. A educação cívica do povo leva as massas a deslocarem-se entre os dois, levadas por grandes movimentos de ideias, ou por grandes aspirações, ou necessidades nacionais. Em Portugal, porém, esses agrupamentos formaram-se à volta de pessoas, de interesses mesquinhos, de apetites, e para satisfazer esses interesses e apetites".
A eleição de Luís Filipe Meneses para a presidência do PSD, e o congresso do partido que agora decorre, vieram trazer esta característica uma vez mais à superfície. Aquilo que mais tem entusiasmado os portugueses - a começar pela imprensa - são as lutas pessoais dentro do PSD, os nomes que irão fazer parte do conselho nacional e mais aqueles que constituirão o governo-sombra. Quanto a ideias, programas ou aspirações colectivas que a nova liderança pode levar para o partido e, sendo eleito, para a governação do país - quanto a isso, nada.
A observação de Salazar mantém-se válida quase um século depois. Em Inglaterra - e outros países de cultura protestante -, os partidos são movimentos concorrentes em ideias, programas e aspirações colectivas. Em Portugal - e outros países de cultura católica -, eles assemelham-se mais a bandos em confronto. E, frequentemente, dentro do mesmo partido, existem vários bandos em confronto.
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